Durante a Idade Média, o conhecimento científico e o senso crítico era um luxo entre os europeus, uma vez que a população não tinha acesso às fontes de conhecimento, nem podiam questioná-las, porque - naquela época - a Igreja Católica detinha o poder e por isso influenciava as massas à seguir os valores cristãos, mantendo os conhecimentos científicos fora das mãos da grande maioria da população. Dessa maneira, a sociedade vivia alienada pelas doutrinas da fé e seguiam em completa ignorância dos fatos.
Contudo, essa realidade mudou alguns séculos depois com o advento do movimento Iluminista, o qual criticava o pensamento baseado pela fé e estimulava a pulverização do pensar racional a todos, a fim de estimular o pensamento crítico e garantir mudanças econômicas, políticas e sociais. Foi graças a esse movimento que as ideias defendidas por Renè Descartes - filósofo, físico e matemático francês do século XVII - se espalharam pela Europa. Tal pensamento defendia que o conhecimento verdadeiro só poderia ser alcançado através do Método Científico, ou seja, a partir do questionamento das hipóteses com base na ciência e não com base nas crenças, na fé ou nas experiências pessoais. Nesse sentido, os séculos seguintes ao movimento iluminista foram marcados pelo afastamento do pensamento baseado na fé e a maior aceitação do pensamento racionalista, o qual propiciou milhares de descobertas científicas que trouxeram muitos benefícios para a civilização, tais como: surgimento da eletricidade, do automóvel, a descoberta da gravidade e a compreensão da genética.
Entretanto, no século XX e XXI, o pensamento científico foi encoberto novamente pela ignorância, porém, agora é por causa do contato constante que o indivíduo tem com as milhares de informações sobre o mundo, graças a globalização. Nesse novo contexto em que a sociedade se encontra, a população leiga está diariamente sendo expostas a milhares de informações sobre tudo o que acontece no mundo, tendo assim muita dificuldade em discernir o que é verdade do que é falso (fake news).
Nesse cenário, a figura de um político surge como uma “salvação” da ignorância, uma vez que uma pessoa detentora de alto cargo é vista como um ser de grande conhecimento e capaz de definir o que certo ou errado; bom ou ruim. Contudo, essa figura não passa de uma nova versão e mais sutil da Igreja Católica na Idade Média, pois, de acordo com Wright Mills: “tudo aquilo de que os homens comuns têm consciência direta e tudo o que tentam fazer está limitado pelas órbitas privadas em que vivem.”. Assim, mesmo a pessoa de maior cargo no país é persuadido pelos seus ideais e acaba por passar essas ideias influenciadas para a população, a afastando ainda mais do conhecimento científico, mesmo que ele esteja ao seu alcance. A exemplo disso, há o caso do movimento anti-vacina que retornou ao Brasil no ano de 2020 devido a pandemia do Covid-19.
Durante esse período em questão, o movimento baseado no negacionismo científico ganhou mais força graças ao posicionamento anti-vacina do presidente da época, Jair Bolsonaro. Nesse cenário, de acordo com Glícia Salviano Gripp (professora de metodologia científica e pesquisadora do movimento antivacina), a adesão das vacinas pela população está bastante atrelada a confiança que as pessoas tem no país e nas figuras de autoridade, tal qual o ex-presidente. Assim, ao exprimir o seu posicionamento em seus discursos, o político está influenciando as pessoas leigas a seguir seu pensamento e as manipulando para ir contra a ciência, a qual está pautada na razão e neutralidade e não nos paradigmas pessoais.
Em suma, apesar de a civilização humana ter evoluído nos cenários científicos e técnicos, infelizmente, a ignorância continua ser uma realidade. Dessa forma, as massas são facilmente manipuladas pelas figuras de poder e pela falsa ideia de neutralidade e conhecimento [científico] que eles devem ter. Nesse sentido, apesar da ciência se provar eficaz, nada do que se é dito é levado em consideração pelas pessoas que já estão com seu senso crítico nublado ou atrofiado. Dessa maneira, mesmo com todas as descobertas, as grandes massas,lamentavelmente, continuam a ser influenciadas pelos dominantes, nunca saindo desse ciclo vicioso.
Beatriz Pasin de Castro - 1º ano - Matutino.
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