Total de visualizações de página (desde out/2009)

sexta-feira, 31 de março de 2023

O Positivismo em face ao avanço conservador na sociedade

 

            Fomentado por setores conservadores da sociedade brasileira, o Golpe Militar de 1964 foi responsável pela instauração de um regime de completa violação dos princípios democráticos e dos direitos dos cidadãos, o que se justificava, de acordo com os militares, pela necessidade de garantia da ordem política e social, a qual eles julgavam estar sendo subvertida naquele contexto. Nesse sentido, a motivação para a tomada do poder utilizada pelos militares expressa uma profunda relação com o ideário positivista, defendido por Augusto Comte, de acordo com o qual a adoção dos meios necessários para a garantia integral da ordem, pela supressão de todo comportamento que se demonstrar em desacordo com a mesma, seria uma ação primordial para a garantia do progresso do corpo social. Dessa forma se evidencia como o pensamento positivista, historicamente, internalizou-se no ideário da sociedade e nas instituições governamentais, produzindo reflexos que se fazem realidade ainda no contexto contemporâneo.

                Convém comprovar, inicialmente, como o pensamento positivista se expressa nos diversos ideais dispersos na conjuntura hodierna. Sob essa perspectiva, conforme preconizado por Comte, disseminam-se na sociedade tendências de desorganização, às quais se associam aos movimentos em torno da contestação da ordem socioeconômica capitalista vigente, e de reorganização, que, de acordo com a lógica comtiana, se relacionam aos movimentos conservadores, defensores da reafirmação dos costumes e tradições. Seguindo essa lógica, o avanço do pensamento tradicionalista e a ascensão de governos de extrema direita ao longo do globo, pautando-se em lemas como “Deus, pátria e família”, munem-se de um discurso positivista, segundo o qual eles seriam os responsáveis por conduzir esse movimento de reorganização, baseado na adoção de um ideário aversivo às lutas sociais contestadoras dos costumes ocidentais-cristãos. Como exemplo, as manifestações golpistas em frente aos quartéis brasileiros, no final de 2022 e início de 2023, tendo por base justificativas semelhantes às utilizadas para a concretização do golpe de 1964, são exemplos claros da influência do pensamento positivista no contexto atual.

                Ademais, é válido destacar como o avanço dessas formas de pensamentos é intensamente nocivo ao corpo social contemporâneo. Nesse raciocínio, em meio a uma sociedade que preza pela conservação da ordem tradicional, diversas pautas fundamentais para a formação de um coletivo calcada na equidade e dignidade, como o combate à desigualdade social, a superação da cultura patriarcal em prol da emancipação feminina, o combate ao racismo e às demais formas de discriminação, a garantia dos direitos da população LGBTQIA+, a promoção do acesso dos grupos subalternizados às universidades e aos cargos de liderança globais, entre outras, acabam sendo suprimidas por um discurso que busca associar tais temas a uma suposta imoralidade. O próprio progresso defendido por Comte se limita ao desenvolvimento técnico e científico, ao passo que se opõe à relevância das transformações sociais citadas, impedindo que elas sejam efetivadas.

                Portando, o positivismo, enquanto pensamento que preza pela garantia da ordem para a promoção do progresso, se mostra internalizado em diversos comportamentos e ideais da atualidade e é nocivo ao corpo social, dado à sua oposição quanto a temas de relevância ímpar para a modernidade. Depreende-se, logo, que o fomento para valorização da diversidade e para o engajamento social quanto à promoção da igualdade é essencial para a superação desse ideário tradicionalista, estruturado no tecido social global.

Eduardo Garcia da Silva

RA: 231220324

1º Ano – Direito Noturno

Nenhum comentário:

Postar um comentário