Foi no século XIX que Auguste Comte desenvolveu a filosofia
conhecida como Positivismo que, além de muitos outros pensamentos, defendia a
manutenção da ordem social, que se dá através da ideia de solidariedade e de
que é necessário que cada indivíduo tenha um lugar seu na sociedade e cada um
desses lugares, por sua vez, deve ser respeitado e seguido “a ferro e fogo”, ou
seja, sem grandes mudanças. A ideia do pensador era que com a ordem alcançada
através da solidariedade era possível chegar ao progresso da humanidade e das
ciências.
Porém, com o tempo e
com o surgimento de novas formas de pensar, foi possível constar que o
pensamento positivista de que papeis sociais são igualmente importantes e que
não podem ser descartados ou mudados colabora para a manutenção de esferas e de
estruturas da sociedade que não são benéficas para grande parte da população.
Ao invés de buscar melhorias e uma maneira de tornar as experiências e recursos
mais acessíveis, o pensamento positivista mantém os oprimidos como oprimidos e
os opressores sempre no poder
O termo “minorias sociais” tem ganhado força nas redes
sociais, tanto da parte daqueles que se vem representados por esses grupos,
quanto por aqueles que acreditam que a existência de movimentos em prol dessas
pessoas seja uma ameaça a sociedade estabelecida, é então que surgem frases
como “as minorias tem que se curvar às maiorias”, dita pelo presidente Jair
Bolsonaro em sua campanha para a presidência.
O medo da mudança no “status quo” assombra aqueles que se
beneficiam com a manutenção da sociedade como ela se encontra, pessoas que
acreditam que se um outro grupo social ganhar notoriedade, o seu vai perder
direitos. O escritor Olavo de Carvalho, considerado
uma das grandes influências de Bolsonaro, vê em novas correntes de pensamento e
novas formas de se viver e ver o mundo uma ameaça a sua forma de pensar e agir,
questionando, inclusive, a existência dessa opressão sofrida pelas minorias
sociais.
Ele e os seguidores dessa corrente de pensamento fecham os
olhos diante da evidente onda de violência e privação de direitos que pessoas
da comunidade LGBT sofrem, por exemplo, como citado em seu livro “O Imbecil
Coletivo” no texto “Mentiras gays”, alegando que esse lugar social que a eles
pertence seria facilmente modificado com a aceitação da natureza heterossexual
do ser humano, o que ignora ideias da biologia já conhecidas da importância e
da legitimidade da existência da homossexualidade.
Apesar de negar
algumas das ideias científicas, os positivistas não negam ela como um todo,
pelo contrário, utilizam ramos da ciência para justificar seu pensamento. No
caso de Comte, a estática física como justificativa para a ordem social, no
caso dos “olavistas”, a necessidade de reprodução, que não acontece em um
relacionamento homoafetivo. O que esse pensamento ignora é o avanço das
relações humanas e de novas formas de se viver em sociedade. Não existem
justificativas para retardar o avanço social mantendo uma “ordem” que há muito
vem sendo questionada e provada errada.
Por fim, o positivismo de Comte contribuiu para a
implementação, por exemplo do termo “positivado”, que significa “deixar
claro, preciso; afirmar, esclarecer” e é utilizada no campo do Direito. Por sua
vez, as ideias positivistas mais contemporâneas, como as apresentadas por
Olavo, trazem consigo a ideia de manutenção do conservadorismo, ideias de uma
época que já não dizem respeito a conjuntura atual, a interpretação que é feita
das leis hoje e da forma de se viver de todo um grupo de pessoas que não pode
ser ignorado e deixado de lado por um “bem social” ou para se curvar a maioria.
Referências:
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