A construção de um sistema de
educação voltada para formação técnica e que deixa de lado a valorização do
ensino para criação de uma sociedade crítica, gerou um campo fértil para a
ausência de questionamentos a respeito da sociedade em que estamos.
Um dos fenômenos sociais mais
gritantes, é o olhar dogmático sobre a produção de conhecimento, e junto com
tal, a utilização da própria opinião na construção dele. Auguste Comte trata de
temas como a importância do conhecimento empírico, e deixa claro que estudar o
objeto a fundo não é necessário. O individuo deve saber da existência do
fenômeno, mas não precisa compreendê-lo em sua totalidade.
Bebendo do positivismo de Comte, a obra
de Olavo de Carvalho traz em sua construção a encarnação dos conceitos de
superficialidade do conhecimento, exaltação do trabalho e valorização do
coletivo perante a felicidade do indivíduo.
Em
“o jardim das aflições[i]” o autor fala sobre como a
sociedade moderna vive de maneira “fantasiosa”, colocando as relações sociais
construídas no meio urbano como grandes ilusões, e exaltando as relações
construídas no meio rural, Olavo também exalta as obras “clássicas” em
detrimento das produções contemporâneas.
Em
“Mentiras Gays”, Carvalho desenvolve sobre como as relações homoafetivas podem
ser uma ameaça a humanidade, uma vez, que segundo o autor, a capacidade
reprodutiva é afetada por relações homoafetivas, portanto afeta a perpetuação
da espécie humana. É possível encontrar na narrativa anteriormente exposta, que
tanto Olavo de Carvalho quanto Comte, entendem a felicidade individual como
algo que ameaça a estrutural social.
Segundo
Sartre[ii], a visão positivista que
Comte pregava, é um dos caminhos para a construção de uma sociedade que aos
poucos flerta com o fascismo, pois não consegue compreender a importância da
diversidade para a construção de um espaço social saudável, tampouco construir
questionamentos sobre os acontecimentos que a rodeiam. E quando consegue tecer
indagações, muitas vezes estas são quase que totalmente fruto da opinião da
maioria que permeia o pensamento do ser.
Percebe-se
então que alguns ideais positivistas estão presentes na sociedade
contemporânea, e potencializados por ferramentas de comunicação, uma vez que
grande parte das discussões sociais com base na opinião dos autores (teorias da
conspiração) são disseminadas por meio das redes sociais.
Por fim, segundo Giuliano Da Empoli[iii] a disseminação de
discursos fantasiosos também é utilizada como ferramenta política, através da ventilação
dos mesmos, líderes como Donald Trump e Jair
Bolsonaro conseguem justificar suas atitudes insanas, como por exemplo: Indicar
o consumo de desinfetantes para o tratamento do COVID-19[iv] ou então recomendar um
medicamento sem eficácia comprovada[v]
[i] O
documentário “O Jardim das aflições”.
[ii] O
Existencialismo é um Humanismo de Jean-Paul Sartre (pp 43).
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