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domingo, 19 de abril de 2020

As lições do debate Huxley-Wilberforce

Salomão disse: "Não há novidade na terra ".  
De modo que, como Platão tinha uma imaginação,  
"que todo conhecimento não passava de lembrança"; 
então Salomão pronuncia sua sentença:  
"que toda novidade não passa de esquecimento". 
FRANCIS BACON: Ensaios LVIII.[1] 

   O enxerto acima da obra “Ensaios”, do filósofo britânico Francis Bacon, é sintomático dos tempos conturbados em que vivemos, a amnésia coletiva do Iluminismo e dos avanços promovidos pela ciência, nos leva a era de uma nova sentença de Salomão: “toda novidade vem do grupo de WhatsApp”. A desinformação tornou-se informação, elevada a mais alta categoria de conhecimento cientifico, relevando para a ciência um espaço menor ou inexistente. A ciência nunca se assumiu como a detentora da verdade, muito pelo contrário, tudo no método científico é provisório e mutável, entretanto o confrontamento da ciência deve ser realizado por ela mesma baseada em evidências. Nesse sentido, fazemos um exercício memorativo de um dos eventos mais representativos do debate científico e sua atualidade para nosso tempo. 
   Em 30 de junho 1860, no Oxford University Museum, é lembrado como o palco de um dos mais importantes debates científicos da história, que colocou em confrontação o biólogo Thomas Henry Huxley e o Bispo de Oxford Samuel Wilberforce. O debate ocorre no contexto das repercussões geradas pelo livro “A Origem das Espécies”, de Charles Darwin, Huxley tornou-se o mais vocal defensor das teorias de Darwin, recebendo de seus detratores o apelido de "Buldogue de Darwin"o Bispo Wilberforce era um dos grandes oradores da Era Vitoriana e um dos mais ferozes críticos de Darwin.  
   Em primeiro lugar, é importante destacar que o debate não foi nenhum “William Lane Craig Vs Christopher Hitchens, ou uma simplificação entre “Fé Vs Razão”, Samuel discordava dos métodos e dados apresentados por Darwin em sua obra, mas eram discordâncias metodológicas, como não existe nenhuma transcrição do debate, temos apenas relatos de ouvintes e comentadores, Huxley é tido como o vitorioso ao demonstrar de maneira brilhante os dados coletados por Darwin em sua homérica viagem a bordo do HMS Beagle. 
   Um momento muito relembrado do debate, foi quando após sua exposição, Huxley foi confrontado pelo Bispo perguntando se “foi através da sua avó ou do seu avô" que Huxley “considerava a descendência de um símio”. Thomas teria afirmado que preferia descender de um símio a ter um parentesco com o Bispo que utilizando de sua nobre posição levava uma discussão séria ao ridículo. O debate foi assistido por cerca de mil pessoas e teve enorme repercussão na comunidade científica.
  Este breve capítulo da história da ciência, parece um espelho de nosso tempo, principalmente no âmbito do debate contemporâneo entre “Isolamento horizontal Vs Isolamento vertical”, o que a princípio não deveria nem ser um debate, tendo em vista que não existem dados que comprovem a viabilidade do isolamento vertical, que consiste em isolar somente grupos de risco, sendo um vírus que em diversos casos é assintomático, o que levaria a um número ainda maior de mortos, diante do fato de que as pessoas que não estariam em isolamento levariam para suas casas, o vírus, infectando as populações de maior risco, entretanto o isolamento vertical é defendido pela presidência da república simplesmente por interesses políticos sem levar em conta dados, evidências e a própria vida humana.  
   Por fim, o momento em que vivemos é de grande gravidade, longe de ser novidade em uma história humana movida por guerras, revoluções e pandemias. A humanidade esqueceu-se da morte, acreditávamos que pandemias eram coisas do passado. Desta forma, deixamos por acreditar que vacinas são perigosas, a imprensa é mentirosa e a ciência é inútil, precisou que uma nova pandemia viesse para reafirmamos a importância daquilo que tanto era relativizado. Precisou que bilhões de pessoas ficassem em isolamento para notarmos que ciência é investimento e o Iluminismo nunca foi tão necessário. 

Referências Bibliográficas: 
[1] BACON, Francis. Essays, Civil and Moral. The Harvard Classics, 1932.    

Luís Gustavo da Silva - 1º ano de Direito/Matutino. 

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