João Francisco, mais conhecido
como Madame Satã, foi um transformista, negro e homossexual, que viveu sua
juventude na primeira metade do século XX, na sociedade racista e homofóbica
carioca. Vindo do nordeste brasileiro aos 13 anos, João passou boa parte de sua
adolescência na rua, onde conheceu a principal expressão da marginalização
social causada pela sua condição. Apesar de o filme retratar a sociedade
carioca da década de 1940, como os palestrantes do coletivo Casixtranha
demonstraram na Semana da Sexualidade promovida pelo Centro Acadêmico de Direito da Unesp - Franca , infelizmente a situação dos negros homossexuais continua
praticamente a mesma.
A marginalização desses
indivíduos começa desde seu nascimento em consequência da cor de sua pele. Ela
é consequência de um processo histórico que tem como causa a escravidão negra e
a não assistência do Estado ao negro após a abolição. Dados atuais
mostram que a população negra é, apesar das legislações acerca do racismo, a que mais morre no país, a que mais sofre
com a pobreza e a que mais sofre com o processo de encarceramento. Portanto, não
importa quantas vezes se repita uma mentira, ela nunca se tornará verdade se
não houver uma mudança da realidade. Assim, não importa quantas vezes se repita
que o Brasil não é um país racista devido à sua grande diversidade, isso não
será verídico enquanto os dados reais não mudarem.
Além disso, soma-se a essa
condição a marginalização do homossexual na sociedade machista e homofóbica
brasileira. Essa situação, cada vez mais agravada pelo preconceito que coloca
filhos para fora de casa e os assassina-os, tornou-se tão comum na sociedade
brasileira que não impacta mais a população. Desamparados por suas famílias e invisíveis
para o Estado, tais indivíduos buscam por sua sobrevivência nas inóspitas ruas
brasileiras.
Assim, buscando contornar essa
situação e compensar o desemparo e a omissão do Estado em frente à esses
indivíduos, o Judiciário brasileiro promoveu a chamada criminalização da
homofobia. Processo, porém, que acabou sendo criticado por parte da população
com a desculpa de que o Judiciário não usou vias constitucionais para isso.
Porém, observa-se que, na verdade, isso é apenas uma reação da parcela conservadora
da população brasileira que, em pleno século XXI, insiste em manter tais
discriminações enraizadas na sociedade.
Termino esse texto com estes
simples versos de autoria própria com a intenção de provocar no leitor, assim
como o filme Madame Satã, uma reflexão acerca da situação do homossexual negro
na realidade brasileira.
Preto, pobre, homossexual
Não importa se é noite ou dia
As tantas Madames Satãs que lutam
por sua vida
São mortas em plena avenida
Não impactos pela grande anomia
Há ainda quem implique com a
criminalização da homofobia
Nenhum comentário:
Postar um comentário