Peço licença ao meu grande inspirador, Chico Buarque, para
recriar, depois de 40 anos, dois dos personagens mais exímios de uma das peças
mais revolucionarias do autor. Falo do Jumento e da Galinha de “Os
Saltimbancos”. As duas personagens foram criadas no contexto da Ditadura
militar, porem, tornaram-se extremamente atuais com as conjunturas da Reforma
da Previdência. Inicio, então, a minha paródia com sincero respeito.
O Jumento é um animal comum. Não tem nome, sobrenome, muito
menos raça. Trabalha pela mais-valia. Deve ser manso, sem direito a pirraça, mesmo
quando a previdência ameaça rachar! Carrega a economia nas costas, trabalhando
todos os dias, de sol a sol, incansavelmente a fim de receber seu pequeno
salário para pagar as obrigações de sobrevivência.
Jumento não tem direito trabalhista. Jumento pode ter
redução e congelamento salarial. Jumento não tem direito a equivalência
salarial devido à inflação. Jumento não tem direito a licença paternidade e,
pior, as Jumentas podem perder seus empregos quando engravidarem. Jumentos são
apenas jumentos e ponto. Jumentos não possuem o direito de viver com dignidade
e, sim, sobreviver. Sobreviver para trabalhar. Trabalhar para sobreviver.
Já a Galinha, é a perfeita representação do individuo que
sonha com a aposentadoria. Trabalhou a vida inteira. Deu seu sangue, seu suor,
seus ovos, suas horas de lazer e, quando já idosa, não pode aposentar.
Aposentaria não foi feita para as Galinhas vagabundas, que, apesar de idosas,
possuem força para trabalhar mais e mais! Trabalha Galinha!TRABALHA GALINHA! E
se cansar, trabalha mais. E se ficar doente, gasta seu salário de miséria para
comprar seus remédios. E se não puder mais levantar da cama, que morra para não
dar prejuízo para a previdência! Galinhas não merecem mais do que pão, poleiro
e trabalho.
Texto criado com inspiração na obra “Os saltimbancos” para a
Semana Jurídica 2017
Luísa
Lisbôa Guedes, Direito Diurno, turma XXXIV
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