‘’O destino de uma época cultural que ‘provou
da árvore do conhecimento’ é ter de saber que podemos falar a respeito do
sentido do devir do mundo, não a partir do resultado de uma investigação, por
mais perfeita e acabada que seja, mas a partir de nós próprios que temos de ser
capazes de criar este sentido’’ Max Weber
Na concepção de Max Weber o objetivo de uma ciência empírica jamais pode
ser elaborar normas e ideais obrigatórios a fim de conceber ‘’receitas’’ para a
prática. Assim, cabe a ciência social evidenciar ao sujeito que uma determinada
ação ou não ação implica na tomada de posição em favor de determinados valores,
porém, a ponderação e a escolha axiológicas pertencem ao indivíduo. Isso não
significa que a análise weberiana defenda - como Durkheim defende- a neutralidade
total do cientista social, pois a própria escolha de um fenômeno em detrimento
de outro já é subjetivo. Na verdade, a preocupação e repulsa de Weber é que a
ciência esteja à mercê de posições político- partidárias. Destarte, diante da
impossibilidade da imparcialidade total é necessário que haja uma separação e
diferenciação entre elucidação cientifica e reflexão valorativa, ou seja, é
fundamental que o cientista indique e delimite o que consiste na sua fala
enquanto pesquisador e em qual momento entra a sua análise enquanto cidadão
dotado preferências ideológicas.
Desse panorama inicial, percebe-se que-
ao contrário, novamente, da visão durkheimiana- em Weber o todo não se sobrepõe
as partes e tampouco as ações dos indivíduos são coordenadas pela força da
sociedade. Na sociologia weberiana o homem é o elemento ativo que determina a
permanência ou não de valores e condutas, são essas ‘’ações sociais’’ que
movimentam a sociedade e, por consequência, a história. Sendo a ação social o
motor das continuidades e mudanças é ela o objeto de estudo do sociólogo. Weber visando delimitar ainda mais esse objeto e estabelecer um método universal divide tais ações em quatro tipos: a
ação social com relação a um objetivo, na qual o sujeito estabelece meios
compatíveis com os fins que ele pretende atingir, além da ação social
com relação ao valor, a emocional e a tradicional. É evidente que os tipos de
ações se interpenetram na prática, no entanto, o sociólogo deve observar qual delas se destaca, isto é, essas categorias de ação social são ‘’tipos
ideais’’. Sérgio Buarque de Holanda, por exemplo, se utiliza do tipo ideal em
‘’Raízes do Brasil’’ quando afirma que o brasileiro age muito pelo emocional.
Ao constatar isso, o historiador não está se referindo aquele ou a este
brasileiro, mas sim a uma característica geral que se destaca dentre os indivíduos
e possui, portanto, maior relevância para o estudo científico do fenômeno.
Partindo do enfoque na ação individual
e dada a complexidade e a variedade de ações sociais, Weber nega a perspectiva
positivista de evolução da história da humanidade rumo ao progresso. A
sociedade não tem um caminho pré-estabelecido, ela consiste em um conjunto
inesgotável de acontecimentos que aparecem e desaparecem graças a ‘’ação
social’’, assim, as explicações dos fenômenos sociais derivam de múltiplas
causas e não só do grau de desenvolvimento da ciência como afirmaria Comte e
nem do modo de produção, em uma análise marxista. Por isso, Weber afirma em sua
crítica ao marxismo que a explicação dos fatos pode estar relacionada à economia,
mas pode também estar ligada a fatores religiosos, políticos ou culturais.
Fala-se, dessa forma, que há um determinismo econômico na análise de Marx e
Engels. No entanto, é importante salientar que apesar de infraestrutura ser a
geradora da superestrutura, a relação entre elas não é unilateral, mas sim uma
via de mão dupla. Isto é, a economia não se sustenta sozinha e o marxismo
considera a influencia da religião, da ideologia e da cultura no geral como
sustentação do sistema socioeconômico e como explicação para os fenômenos
sociais.
Por fim, cabe evidenciar sucintamente a atualidade
do pensamento weberiano. Weber nega, como visto,
a perspectiva utópica da neutralidade da ciência. Nesse sentido, podemos destacar a inconsistência dos argumentos favoráveis ao ‘’Escola sem partido’’, uma vez que
os conhecimentos vinculados ao projeto político-pedagógico escolar já possuem e
sempre possuirão orientação ideológica. A perspectiva histórica e literária eurocêntrica,
por exemplo, é ideologia. Ademais, Weber adota uma análise sociológica que
privilegia a ação individual. Dessa forma, o seu pensamento dialoga com a atual tendência de valorização das ações individuais, as quais são
vistas como capazes de provocar grandes mudanças sócio-politicas, a própria ideia
de meritocracia e do ‘’self made man’’ são outros exemplos contemporâneos de primazia
individual e de predominância das partes na orientação das eternas descontinuidades históricas.
Juliana Inácio- Direito (noturno)
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