Tição
Neguinho
Pixaim
De cor
De raça
Gorila
Mulata
Negão
Sarara
Crioulo
Preto
Macaco
Um neguinho safado,
Um qualquer,
Só mais um José,
Só mais um Silva,
No morro e na vida.
Pisado, cuspido, maltratado.
Separado, mas iguais.
Um abismo que separa.
Um muro que que separa.
A melanina que estratifica.
Só um choro mudo que fica,
Que não sai,
Mas se limpa e vai.
Vai pra frente, pra sempre.
Não vai, não passa.
Barrado.
“Aqui não tem seu número”
“Isso não é pra você”
“Você infelizmente não está nos padrões da empresa”
E o vingador é lento, mas muito bem intencionado.
Enquanto isso vai deixando todo mundo preto
E do cabelo esticado.
Mas no morro e no centro todos têm a mesma oportunidade.
É só se esforçar que consegue.
É só pegar três horas de condução.
Estudar.
Trabalhar.
Voltar.
Andar.
Mais três horas.
Quão fácil é vencer o morro.
E esquecidos.
E esquecidos.
Mas o negro, o preto, o pixaim
Põe a cabeça no travesseiro e sonha
Com mundos que não doam tanto,
Que não julguem tanto,
E por fim sorri e canta:
- A Carne mais barata do mercado é a carne negra!
A carne negra.
Negra.
Carne igual.
- Senhor Deus dos desgraçados, dizei-me vós, Senhor Deus
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus...
Ó mar! Por que não te apagas?
Apagou, o negro dormiu.
José Eduardo Adami - 1º Direito (noturno)
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