Diante
de uma porta há um guarda. Atrás dessa porta há a Ordem. Reza a
lenda que aquele que diante da Ordem estiver conhecerá o Progresso.
Vem um homem procurando pela Ordem. Um homem condenado à
mediocridade da normalidade. Não é mais que alguém e nem menos que
ninguém. Um homem, um – artigo indefinido. E esse homem, apesar do
esforço, nada consegue do guarda senão um “por enquanto não
posso autorizar sua entrada, mas um dia, quem sabe, se no seu lugar
permanecer, chegará sua vez”. Um homem, sem muita escolha visto
que o guarda era três vezes maior do que ele, não lutou, apenas no
seu lugar permaneceu. Passam-se dias que tornam-se meses que
tornam-se anos que tornam-se uma vaga ilusão de tempo. Eventualmente
há conversas entre um homem e o guarda. Nada profundo. Nada
realmente satisfatório.
No
começo berrava de fúria e não aceitava essa situação. Com o
passar do tempo a força foi se perdendo, até sobrar somente a
esperança de que um dia, talvez, poderia estar diante da Ordem. Um
hoemem, agora fraco e velho, quase não escutou o guarda lhe chamar.
O velho aproxima-se do homem de farda e escuta deste que será
permitido sua entrada com um porém - “diante da Ordem deve-se
fechar os olhos, ajoelhar-se e prender a respiração”. O velho
incapaz de relutar aceita tudo sem objeções.
Diante
da grande porta o velho se posiciona, ajoelha-se, fecha os olhos e
puxa todo ar que seus atrofiados pulmões podem suportar. O guarda
abre a porta e diz ao velho que siga em frente. O velho praticamente
arrasta-se para dentro da sala. Nas suas costas ouve o ranger da
porta sendo fechada. Sentia-se perdido. Estava perdido. O ar já
precisava ser trocado, os olhos pediam por luz e os joelhos não
aguentavam mais suportar o peso de todo o corpo. No desespero abre os
olhos e nada ve na sala, puxa o ar e nada vem a seus pulmões, tenta
levantar e as velhas pernas já não respondem. Estava diante da
Ordem, mas a sua natureza era caótica. Estava morto.
-
Pedro Guilherme Tolvo, direito noturno
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