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sexta-feira, 15 de abril de 2016

Diante da Ordem

 
Diante de uma porta há um guarda. Atrás dessa porta há a Ordem. Reza a lenda que aquele que diante da Ordem estiver conhecerá o Progresso. Vem um homem procurando pela Ordem. Um homem condenado à mediocridade da normalidade. Não é mais que alguém e nem menos que ninguém. Um homem, um – artigo indefinido. E esse homem, apesar do esforço, nada consegue do guarda senão um “por enquanto não posso autorizar sua entrada, mas um dia, quem sabe, se no seu lugar permanecer, chegará sua vez”. Um homem, sem muita escolha visto que o guarda era três vezes maior do que ele, não lutou, apenas no seu lugar permaneceu. Passam-se dias que tornam-se meses que tornam-se anos que tornam-se uma vaga ilusão de tempo. Eventualmente há conversas entre um homem e o guarda. Nada profundo. Nada realmente satisfatório.
No começo berrava de fúria e não aceitava essa situação. Com o passar do tempo a força foi se perdendo, até sobrar somente a esperança de que um dia, talvez, poderia estar diante da Ordem. Um hoemem, agora fraco e velho, quase não escutou o guarda lhe chamar. O velho aproxima-se do homem de farda e escuta deste que será permitido sua entrada com um porém - “diante da Ordem deve-se fechar os olhos, ajoelhar-se e prender a respiração”. O velho incapaz de relutar aceita tudo sem objeções.
Diante da grande porta o velho se posiciona, ajoelha-se, fecha os olhos e puxa todo ar que seus atrofiados pulmões podem suportar. O guarda abre a porta e diz ao velho que siga em frente. O velho praticamente arrasta-se para dentro da sala. Nas suas costas ouve o ranger da porta sendo fechada. Sentia-se perdido. Estava perdido. O ar já precisava ser trocado, os olhos pediam por luz e os joelhos não aguentavam mais suportar o peso de todo o corpo. No desespero abre os olhos e nada ve na sala, puxa o ar e nada vem a seus pulmões, tenta levantar e as velhas pernas já não respondem. Estava diante da Ordem, mas a sua natureza era caótica. Estava morto.

- Pedro Guilherme Tolvo, direito noturno

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