Com o advento da Revolução
Industrial, as transformações sociais operadas na Inglaterra e em toda a Europa
foram visíveis e tiveram consequências drásticas. Entre elas, tem-se a formação
de uma nova classe social muitas vezes esquecida pelo sistema: o proletariado.
Junto com essa classe, surgiram também diversos problemas sociais como a falta
de saneamento básico entre os trabalhadores das indústrias, más condições de
trabalho e a exploração da mão-de-obra infantil, que incitaram pensadores como
Augusto Comte a construir uma nova ciência que tinha como objeto de estudo a
própria sociedade e que foi chamada de Física Social.
Com a criação da Física Social,
Comte afirma em sua obra “Curso de Filosofia Positiva” que todas as instâncias
do conhecimento humano seriam abarcadas, finalmente, pela Filosofia Positiva.
Em outras palavras, é de notória percepção que nas quatro principais categorias
de fenômenos naturais – astronômicos, físicos, químicos e fisiológicos – há
tempos que o pensamento positivista é aplicado, tendo substituído o estado
teológico e o estado metafísico, respectiva e gradualmente. Tal notoriedade é
exemplificada pela Lei da Gravidade (um fenômeno físico) - já que sempre foi um
questionamento humano entender por que os corpos “caíam” - que primeiramente
foi explicada como um fenômeno “divino” (estado teológico), posteriormente como
um fenômeno de causas racionais, interpretado por abstrações (estado
metafísico) e, finalmente, como uma Lei Universal, chamada de Lei de Gravitação
Newtoniana (estado positivo).
Da mesma forma, Comte também
compara o próprio desenvolvimento humano com os três estados pelos quais passam
o conhecimento, sempre buscando o fim que é o amadurecimento intelectual: a
criança é a representação do princípio teológico, em que, diante da necessidade
de uma explicação qualquer, capaz de ligar os fatos perceptíveis pela
observação, mas na impossibilidade de criar teorias, desenvolve espontaneamente
concepções teológicas; o adolescente é a fase de transição, assim como o estado
metafísico, já que é impossível a passagem direta entre a criança e o ser
adulto; e o adulto é, por fim, o princípio “viril”, pronto, definido, palpável
e normativo como o adulto e como o Positivismo.
Há também a correlação entre a
História da Humanidade e as três etapas do conhecimento propostas por Comte, em
que os homens teriam passado pelo estágio teológico no período Medieval,
doutrinados pela Igreja Católica; posteriormente substituído pelo conhecimento
metafísico durante o Século das Luzes, no qual prevalecia o culto à razão; e,
finalmente, atingido o estágio Positivo, em que a maior preocupação tornou-se o
progresso científico e tecnológico, advento da Revolução Industrial. É,
portanto, contraditório perceber que o estudo da Sociologia nasceu das consequências
trazidas pelo momento mais positivista da história humana e, no entanto, não
adquire nenhuma função de mudança desse contexto social. A função da Física
Social seria, então, a simples análise das relações e integrações sociais, com
primordial distanciamento de seu objeto de estudo: a própria sociedade.
Assim, é essa a crítica feita à
Sociologia de Augusto Comte, somando-se o fato de que, preocupada com a ordem e
o progresso da sociedade, defende a correção de anomalias sociais sem, no
entanto, verificar e evitar as causas reais da desigualdade social e, ao mesmo
tempo, estimula o progresso que tem por resultado o agravamento dessas
disparidades. Por essa razão, muitos enxergam semelhanças entre o Positivismo e
o Liberalismo como indiferentes diante das mazelas sociais. Afinal, parece
pouco produtiva a criação de uma nova ciência que analisa e diagnostica as
relações e fatos sociais sem averiguar suas causas e resoluções tão urgentes na
época e até hoje.
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