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sábado, 16 de maio de 2015

A Física Social e a crítica às suas mazelas



Com o advento da Revolução Industrial, as transformações sociais operadas na Inglaterra e em toda a Europa foram visíveis e tiveram consequências drásticas. Entre elas, tem-se a formação de uma nova classe social muitas vezes esquecida pelo sistema: o proletariado. Junto com essa classe, surgiram também diversos problemas sociais como a falta de saneamento básico entre os trabalhadores das indústrias, más condições de trabalho e a exploração da mão-de-obra infantil, que incitaram pensadores como Augusto Comte a construir uma nova ciência que tinha como objeto de estudo a própria sociedade e que foi chamada de Física Social.
Com a criação da Física Social, Comte afirma em sua obra “Curso de Filosofia Positiva” que todas as instâncias do conhecimento humano seriam abarcadas, finalmente, pela Filosofia Positiva. Em outras palavras, é de notória percepção que nas quatro principais categorias de fenômenos naturais – astronômicos, físicos, químicos e fisiológicos – há tempos que o pensamento positivista é aplicado, tendo substituído o estado teológico e o estado metafísico, respectiva e gradualmente. Tal notoriedade é exemplificada pela Lei da Gravidade (um fenômeno físico) - já que sempre foi um questionamento humano entender por que os corpos “caíam” - que primeiramente foi explicada como um fenômeno “divino” (estado teológico), posteriormente como um fenômeno de causas racionais, interpretado por abstrações (estado metafísico) e, finalmente, como uma Lei Universal, chamada de Lei de Gravitação Newtoniana (estado positivo).
Da mesma forma, Comte também compara o próprio desenvolvimento humano com os três estados pelos quais passam o conhecimento, sempre buscando o fim que é o amadurecimento intelectual: a criança é a representação do princípio teológico, em que, diante da necessidade de uma explicação qualquer, capaz de ligar os fatos perceptíveis pela observação, mas na impossibilidade de criar teorias, desenvolve espontaneamente concepções teológicas; o adolescente é a fase de transição, assim como o estado metafísico, já que é impossível a passagem direta entre a criança e o ser adulto; e o adulto é, por fim, o princípio “viril”, pronto, definido, palpável e normativo como o adulto e como o Positivismo.
Há também a correlação entre a História da Humanidade e as três etapas do conhecimento propostas por Comte, em que os homens teriam passado pelo estágio teológico no período Medieval, doutrinados pela Igreja Católica; posteriormente substituído pelo conhecimento metafísico durante o Século das Luzes, no qual prevalecia o culto à razão; e, finalmente, atingido o estágio Positivo, em que a maior preocupação tornou-se o progresso científico e tecnológico, advento da Revolução Industrial. É, portanto, contraditório perceber que o estudo da Sociologia nasceu das consequências trazidas pelo momento mais positivista da história humana e, no entanto, não adquire nenhuma função de mudança desse contexto social. A função da Física Social seria, então, a simples análise das relações e integrações sociais, com primordial distanciamento de seu objeto de estudo: a própria sociedade.
Assim, é essa a crítica feita à Sociologia de Augusto Comte, somando-se o fato de que, preocupada com a ordem e o progresso da sociedade, defende a correção de anomalias sociais sem, no entanto, verificar e evitar as causas reais da desigualdade social e, ao mesmo tempo, estimula o progresso que tem por resultado o agravamento dessas disparidades. Por essa razão, muitos enxergam semelhanças entre o Positivismo e o Liberalismo como indiferentes diante das mazelas sociais. Afinal, parece pouco produtiva a criação de uma nova ciência que analisa e diagnostica as relações e fatos sociais sem averiguar suas causas e resoluções tão urgentes na época e até hoje.


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