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sexta-feira, 6 de setembro de 2013

            Eu queria falar, não, eu não queria, mas precisava falar...
Minha mão se ergueu num ato que até a mim espanta. Habituado à vergonha que me acompanha desde os mais verdes anos de minha vida, falar naquela sala inundada em letargia e sanha entre dois seres tão esparsos. Sim, eu precisava falar...
            Um proferia que eles, tão distantes na sala, e os distantes somos nós, filhos da classe média alta, o amedrontavam como futuros juristas, pois como os riquinhos do interior ultrapassariam seus berços esplêndidos e enxergariam o brilho dos olhos fundos de quem guarda tanta dor, quiçá a dor de todo esse mundo?
            Já no oposto, o mais devasso filho da família Eulálio Montenegro d'Assumpção tentava, num escárnio, facejar como seu escritório, erguido com o mais nobre suor de seus antepassados, cujo nome conta mais de três séculos, acudiria tudo que é nego torto, errantes, retirantes, lazarentos, os quais ouvia boatos que existiam, mas certeza, nenhuma.
            Eu precisava falar... Eu sabia, sabia sim o que falar. Mas, se errasse, falando às paredes, aos conflitos que não tinham...
            Eu precisava falar.
            E falei... Despejei ali toda minha certeza de quem acredita nessas criaturas como são, e como são edificadas.
            Balbuciei palavras que já não são novas a esse mundo, mas que desmantelou a atroz sentença de meu algoz. Bradei a mais weberiana das escritas por Sartre. Não somos só filhos dessa classe média burguesinha, mas somos nós, e um pouco nós, um pouco eles... Quem sabe, não fazemos o que queremos?

            “Não importa o que fizeram de mim, importa o que eu faço com o que fizeram de mim.” (Jean Paul Sartre)

Marcus Vinícius de Faria, Direito Noturno.




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