Não irei tratar aqui da teoria jurídica, até por que, não é sobre isso de que o filme especialmente se trata. Tampouco utilizarei-me de 3ª pessoa e linguagem formal, já que se trata de uma postagem em um blog, e não de uma resenha ou trabalho acadêmico.
O filme Código de Conduta se sobressai de seu gênero porque não é apenas um filme sobre um crime e seu (mau/bom) julgamento. Ao ser colocado da forma como foi, ele coloca o espectador como a opinião social. No início, não há como não torcer a favor do personagem Clyde Shelton, pois ao vermos a cena em que sua família é assassinada, além da arrogância do representante da promotoria Nick Rice e sua ambição em alcançar um cargo de alto escalão, mantendo seu alto indíce de condenações, a sociedade (espectadores) clama por justiça.
Assim, quando o promotor faz um acordo com o pior dos criminosos em questão, a revolta toma conta do personagem, assim como do público. E nesse ponto, o “clamor das ruas” desperta na sociedade. Então, com a justificativa “Alguma justiça é melhor do que nenhuma”, ou ainda com a “arte do possível”, Nick Rice nos apresenta a realidade de um sistema imperfeito, com funcionários imperfeitos.
A promotoria deveria defender os interesses da sociedade, e nesse caso, principalmente da parte lesada. A partir do momento que o promotor age na forma oposta, pelo menos em parte, o clamor das ruas emana e se manifesta nas ações do personagem Clyde. Na minha opinião, a maior parte da sociedade fica ao lado dele até a morte dos dois criminosos (na qual, então, dar-se-ia por satisfeita a justiça/vingança). No entanto, as ações do personagem não param por aí, pois não se tratava apenas de vingança, mas além disso, de consertar todo um sistema de justiça falho, tendo como alvo principal, ensinar ao promotor Nick Rice a lição de “não fazer acordo com assassinos”.
Nesse sentido, foi dado ao personagem Clyde (e motivando assim o público a uma escolha) tudo o que ele precisava: recursos intelectuais e materiais. Não há como saber o sentimento de se perder a família daquele modo. O engenheiro não tinha mais o que perder. Já não importava mais sua vida, além de não ter tido a justiça que não lhe restituiria sua família, mas ao menos lhe daria um mínimo de conforto para sua mente.
Por outro lado, não há como continuar torcendo pelo justiceiro quando ele começa a ultrapassar os limites, movido pelo ódio. E ainda, durante o filme descobrimos que ele não era lá um homem tão correto assim. Assim, o clamor das ruas não é exatamente a ação do personagem, e sim a opinião do público espectador, já que Clyde seria a parte mais lesada do acontecimento, portanto mais afetado e movido pelos sentimentos, enquanto que a justiça se demonstra racional demais para solucionar o conflito em questão.
Deve ficar bem claro então que existe uma grande diferença entre justiça e vingança. Mas o que fazer quando a justiça que controla a sociedade tem como crença que “alguma justiça é melhor que nenhuma”? Clyde tinha todos os recursos e muitos bons motivos para fazer o que fez no filme, no entanto ultrapassou todos os limites, embora o filme tenha mostrado que só assim conseguira mostrar ao promotor qual era a lição a ser aprendida, e talvez por isso a escolha do criador pelo título (original).
Trazendo para a nossa realidade, isso pode nos mostrar qual o risco de, por imposição de metas pelo CNJ, buscar incansvelmente acordos e mais acordos, nem sempre satisfatórios para alguma das partes, atingindo apenas números que não representam plenamente justiça.
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