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sexta-feira, 17 de junho de 2011

Confrontando visões históricas

Ao contrário das duas obras analisadas anteriormente, o Manifesto Comunista não é uma obra científica, e sim, um panfleto político escrito por Marx e Engels a pedido da Liga Comunista, no qual eles expressaram a visão, história e análise do capitalismo, a idéia da história da luta de classes, assim como uma perspectiva do avanço das contradições da realidade rumo à superação do capitalismo pela classe trabalhadora, representando a sistematização da visão dos principais pontos da história do capitalismo.

Para Marx, a história da luta de classes é “a história de todas as sociedades que já existiram”, sendo a perspectiva de uma dinâmica histórica, a ideia de luta de classes, das próprias contradições e transformações contínuas do Direito. Já que o capitalismo e a sociedade burguesa aprofundaram a luta de classes ao longo do tempo, o Direito foi tido como mediador dessa situação, não eliminando a luta de classes, mas a fim de trabalhar em favor da garantia das conquistas como elemento da incorporação de novos direitos a uma das classes.

Hoje não se pode falar objetivamente em uma luta de classes, e sim, em contradições numa dialética de antíteses, ainda que a luta da classe trabalhadora não seja meramente para eliminação do capitalismo (a tese), mas para a incorporação a ela, ou seja, é a luta pela liberdade para se engajar de modo mais consistente nesse sistema. E então quem confronta diretamente com o Estado? Hoje, essa perspectiva de Marx exclusiva da luta de classes já se encontra finda, pois na contemporaneidade existem outros aspectos de contradições, sendo a perspectiva do capitalismo de uma nova síntese em relação às anteriores.

Antigamente, as corporações de oficio eram regidas por leis fixas com preços fixos, estabelecendo entraves não relativos à produção. No entanto, esse novo modo de produção não mais permitia grilhões políticos, já que se pressupõe que a economia não deve ser controlada por nenhuma outra coisa a não ser as relações econômicas. A possibilidade de só o mercado ser o regulador dos modos de produção fez emergir uma nova força civilizatória, em que só as relações de mercado são o limite.

Logo, toda transformação não se dá sem uma classe revolucionária, e neste caso, a burguesia faz com que essa transformação histórica seja possível num processo civilizatório como nenhum outro agente social havia conseguido. No modo de produção feudal, ainda que a capacidade militar fosse sua característica mais forte, ela não era acompanhada por uma melhoria tecnológica que possibilitasse transformações na vida cotidiana de modo significativo. No entanto, a burguesia “foi a primeira a dar provas do que a atividade humana pode empreender”.

A famosa frase do Manifesto Comunista “Tudo o que é sólido derrete-se pelo ar, tudo o que é sagrado é profanado e os homens são por fim compelidos a enfrentar de modo sensato suas condições reais de vida”, mostra a capacidade do novo processo civilizatório de criar constantemente, empreender para criar o improvável. A condição de revolucionar a cada momento o próprio modo de produzir é a maneira pelo qual o capitalismo irrompe cada vez mais seus limites e se renova a cada dia, fazendo com que a mercadoria deixe de ter uma forma material, e possua diversas naturezas, como o mundo virtual. Atualmente essa descrição de mercado é uma realidade ainda mais impetuosa aos nossos olhos, caracterizando-se como uma força que se intensificou com a globalização econômica e consequentemente gerou um receio à instabilidade do sistema como um todo.

Desde o principio, Marx já percebia uma prerrogativa global do sistema, como uma vocação para o mercado mundial. Todo o desenvolvimento dos meios de produção teve o estímulo de ligar o mercado, assim como os meios de comunicação se desenvolveram de uma maneira fantástica, mas não meramente como uma necessidade do homem. Desse modo, a perspectiva de uma economia globalizada não é uma característica exclusiva do nosso tempo, pois isso já vinha como parte da interpretação de Marx e Engels na perspectiva de interdependência mundial composto por um mercado que se impõe, e um Estado que funcione como gerenciador das relações de mercado.

Contudo, a superação do capitalismo ocorre no momento em que ele não consegue mais suprir as necessidades das pessoas, alias, quando não for possível extrair mais forças do trabalhador para suprir o próprio sistema. Tais limites estreitos da economia capitalista devem ser extintos, justamente quando a contradição entre superabundância e fome generalizada torna-se mais visível, como um ponto de estrangulamento do sistema.

Diante disso, pode-se finalizar dizendo que tal obra constitui um magnífico instrumento para o pensamento da humanidade, compondo um ponto de convergência de várias tendências políticas e ideológicas, que viriam a influenciar posteriores gerações e lutas pelas organizações dos homens.

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