Proprietário e escravo, senhor e servo, opressor e oprimido. Segundo Marx e Engels, na obra O Manifesto Comunista, a história da humanidade pautou-se sempre pela da luta de classes. Assim, em cada época, com essa luta, uma classe caía em ruína e outra prosperava. Nesse ponto, relacionando-se ao seu período, destacam a burguesia. Surgindo da sociedade feudal, ganhou espaço no mundo moderno; de classe de servos, fez-se classe privilegiada no ambiente urbano, sustentando os antagonismos.
De início, o referido grupo social deu passos significativos na economia: o sistema corporativo fechado do passado cedeu lugar às manufaturas em virtude do crescimento do comércio. Como o mercado não paralisou sua expansão, mas pelo contrário, intensificou-a, juntamente com a demanda, a produção manufatureira tornou-se insuficiente para atendê-lo. Coube então, à grande indústria satisfazer essas necessidades mercadológicas ao aumentar a técnica e o ritmo de produção e, quanto a isso, o vapor, aliado à máquina, deu impulso a tal feito.
As mudanças na economia, por sua vez, também foram acompanhadas de transformações políticas. A burguesia, ascendeu ao poder e utilizou-o a seu favor: de “terceiro estado” tornou-se peça fundamental no Estado que surgia. Satisfazia seus interesses, usava-o como instrumento de garantias concernentes à sua realidade. Assim, denominava-se o Estado Liberal, identificado pela não intervenção, pelo “deixa estar, deixa fazer”, pela liberdade econômica tão desejada, provocando mudanças significativas nas relações interpessoais.
Essa liberdade conferida às indústrias, empresas, ante o seu crescimento, possibilitou um viver sem fronteiras para elas: “indústrias que não mais trabalham com matéria-prima nacional, mas matéria prima extraída das zonas remotas; cujos produtos são consumidos não só no próprio país, mas em todo o canto do globo” (Marx e Engels, O Manifesto Comunista, p.14). O que era um sistema de subsistência transformou-se num sistema de dependência: produção material e intelectual se entrelaçam, criando uma teia global, uma gama de conexões, a globalização. Essa característica permaneceu, sendo observada de forma mais intensa (o que difere é um estado mais intervencionista, por exemplo, na questão de direitos humanos): empresas somente mantêm a sede em seu país de origem, e deslocam as unidades produtoras para aqueles que ofereçam melhores privilégios, auxílios fiscais, bem como onde a mão de obra se encontra barata, expandindo ainda mais o mercado. Essa característica, por conseguinte, para Marx, demonstra a capacidade de criação do mundo à imagem burguesa, e o próprio poder de empreendimento burguês: “(...) maquinarias, aplicação da química na indústria e na agricultura, navegação a vapor, estradas de ferro, telégrafos(...)” (Idem, p. 16). Tais dados aperfeiçoaram, e muito, nossa qualidade de vida no que se refere à praticidade e conforto, sendo inegável a contribuição da referida classe.
O problema, porém, residiria na exploração intensificada do operário, tanto na mais valia quanto na tentativa de incitá-lo ao consumo: “tão logo o trabalhador é explorado pelo fabricante, e, no fim, recebe seu salário em dinheiro, ele é atacado pelas outras porções da burguesia, o senhorio, o lojista, o penhorista etc.” (idem, p.21). Assim, retoma-se a questão da capacidade de criação: para que houvesse consumo, seria necessária constante inovação. Mas, diante disso, perguntamos se o inovar constante provém do capitalismo, ou de uma necessidade real para melhorar a vida. Pensa-se, que, na verdade, como foi dito em sala, trata-se de uma necessidade interna do homem de sempre produzir algo, de aperfeiçoar-se, desenvolvendo seu intelecto. Tal fato pode, por vezes, destinar-se também a suprir sua necessidade real. Porem, o sistema pode apropriar-se dele criando e convencendo o uso de coisas supérfluas ou inconsumíveis.
Dessa forma, como Marx percebe existência de luta de classes em toda a história, podemos identificar também a necessidade de criação, de expansão da capacidade humana, intrínseca ao homem, principalmente na contemporaneidade. Tais feitos, por fim, incitam perguntas: até que ponto que vai a criatividade humana? Do que mais o homem é capaz diante de condições de poder que lhe são oferecidas? E, a partir disso: é manifesto por todos um caráter e capacidade comuns, seja no poder, seja nas relações pessoais? E, por fim, não seria melhor aperfeiçoar primeiro a célula e consequentemente o funcionamento de todo o tecido humano?
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