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quinta-feira, 20 de março de 2025

A importância da imaginação sociológica como ferramenta anti-discriminatória na sociedade contemporânea, com enfoque na LGBTfobia

O conceito de “imaginação sociológica” abordado pelo sociólogo Wright C. Mills em sua obra “A Imaginação sociológica”, apesar de relativamente antigo, tendo em vista sua publicação em 1959, é instrumento indispensável para o entendimento das problemáticas do mundo atual, entre elas a discriminação por questões de identidade de gênero e orientação sexual, a chamada LGBTfobia.
O documentário “Paris is Burning”, lançado em 1991 e dirigido e escrito por Jennie Livingston, expõe as dificuldades enfrentadas pela população LGBTQIA+ nos anos 80, em Nova York, Estados Unidos, e a importância dos chamados ballrooms para a produção cultural da época e para a proteção dessa comunidade perante a uma sociedade extremamente violenta e preconceituosa.
Os chamados ballrooms eram espécies de salões de dança, onde eram realizados bailes. Nesses eventos, a comunidade queer e LGBTQIA+ se reunía para realizar desfiles com categorias específicas de figurino, batalhas de dança, e entretenimento, no geral. Jovens que haviam sido expulsos de casa muito cedo devido à não-aceitação dos pais eram acolhidos por artistas que participavam das casas de baile há mais tempo, formando uma grande família (cada casa tinha seu próprio sobrenome e sua “mother” (mãe) — a figura mais respeitada dentro do ballroom e a que cuidava de todos os integrantes).
Nesse período, a comunidade LGBTQIA+ sofria pela falta de acesso a direitos básicos, como alimentação, moradia, saúde, emprego, visto que homofobia e transfobia eram discriminações justificadas e legitimadas por organismos sociais e estatais. Porém, além de todo o estigma já carregado por pessoas trans e homens gays nessa época, o fato de a maior parte dessa comunidade ser negra e latina aprofundava a sua exclusão e marginalização perante ao restante da sociedade estadunidense, a qual era idealizada através de conceitos como o “Tio Sam” e o “Sonho Americano”. 
Por isso, como ressaltam os artistas participantes do documentário, o sonho da maioria dos jovens que participavam desses eventos era alcançar um patamar de fama, luxo e dinheiro para sair da situação em que viviam, o que enxergavam ser impossível, devido à sua origem e ao preconceito que sofriam. Os ballrooms eram locais onde podiam fantasiar uma realidade diferente, na qual seus sonhos eram possíveis e sua existência, permitida. 
Diante de todas as discriminações sofridas por essa comunidade, percebe-se que o conceito de imaginação sociológica proposta por Mills não era aplicado em nenhum âmbito de convivência social nesse período. A população geral sentia que seus valores individuais estavam ameaçados e “em crise”, pois observavam tudo o que era considerado “diferente” no contexto sócio-histórico em questão sob a ótica biográfica — ou seja, a partir de uma visão individualista e limitada pela consciência e vivência pessoal, sem a capacidade de enxergar também o lugar do outro e a sua presença na estrutura social, como explica Mills.

Com essa análise, conclui-se que a aplicação da imaginação sociológica é fundamental para a mudança da sociedade atual, visto que através dela é possível alcançar o entendimento de que discriminações como a LGBTfobia não são casos individuais, e sim, fenômenos sociais nos quais o preconceito se enraiza e fortifica.


Maria Vitória Silva

1º ano - Direito (Noturno)


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