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quinta-feira, 20 de março de 2025

A Maratona do Café e o Desafio de Ser Feliz

 Ontem, decidi fazer algo muito ousado: tomar um café sem meu celular. Isso mesmo, sem rolar o feed do Instagram, sem responder ao WhatsApp, sem olhar e-mails, sem a pressão do “não posso perder nada” enquanto espero a espuma do meu cappuccino. Só eu, minha xícara de café e o silêncio. Parecia simples, né? Mas, logo que me sentei, algo estranho aconteceu. Fui assolado por uma sensação desconfortável, quase de pânico. Eu estava sozinho. E, o pior, sem nada para fazer.


De repente, comecei a me perguntar: "Quem é que consegue viver sem estar constantemente conectado ao mundo?" Não é mais sobre o café. Nem sobre o silêncio. Agora, estava começando a entender a magnitude do problema social em que me meti. 

Essa maratona do café me provocou reflexões sobre algo que tem sido tema de muitas conversas: o aumento de diagnósticos de depressão e suicídios, fenômenos que, embora não sejam novos, se amplificaram nos últimos anos. A vida que parece “perfeita” na tela do Instagram, com filtros e risos de selfies, parece estar cada vez mais distante da realidade de quem está, de fato, vivendo um dia a dia cheio de pressões e frustrações.


Enquanto me afundava no meu cappuccino sem celular (quem diria que um simples café poderia me fazer tão existencial?), comecei a perceber que essa necessidade constante de estar ocupado e conectado não é uma coincidência. Em um mundo onde a produtividade é a medida do valor humano, não há tempo para estar triste. Não há tempo para questionar a vida. Estamos todos tão focados em realizar, produzir, mostrar que tudo está bem, que esquecemos de, de fato, viver.


Quanto disso é reflexo de uma estrutura social que preza mais pelo que mostramos do que pelo que sentimos? Não é só sobre estar ocupado, mas sobre ser aceito. E ser aceito, hoje, parece ser sinônimo de estar feliz o tempo todo, mesmo que a felicidade seja um estado artificial, construído para ser consumido.


Eu não podia deixar de pensar que, talvez, essa obsessão por estar bem, seja uma das razões pelas quais os diagnósticos de depressão e suicídio estão em alta. Porque, ora, se estamos todos em uma corrida para ser felizes, o que acontece quando, inevitavelmente, a gente cansa de correr? Quando, finalmente, o café sem celular nos mostra a nossa própria solidão?


“Sente-se triste? Não se preocupe, temos aplicativos para isso! Exiba seu melhor sorriso em um story e você já estará no caminho da felicidade! Não tem tempo para isso? Não tem problema, tome um antidepressivo e continue correndo.” A solução não é resolver o que realmente nos incomoda, mas fazer com que pareçamos estar bem enquanto seguimos nos atropelando na maratona do café.


No fim, acho que a grande lição do meu café sem celular foi que, talvez, todos nós precisemos de um pouco mais de "desconexão" para entender o que realmente está acontecendo com nossas vidas. E, quem sabe, assim, encontrar um pouco mais de paz nesse mar de ocupação e pressa.


Laura Gomes Valente - 1 ano Direito Matutino

2 comentários:

  1. A desconexão, Laura, realmente, é um remédio e tanto para exercitarmos uma faculdade tão nossa, e tão esquecida ultimamente: a nossa capacidade de refletir, de nos compreendermos e de experimentarmos, com consciência, o nosso lugar neste mundo. Um abraço, Alliprandino.

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  2. Perfeita colocação, Alliprandino! A constante perda de tempo ocioso e reflexivo nos leva à esquecer do nosso prazer em viver e estar neste mundo. Abraços, Laura.

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