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terça-feira, 20 de maio de 2025

A autoridade como fator central, determinante e estabilizador do racismo estrutural

  O texto “Raça e História”,de Silvio Almeida, discorre sobre a construção social do conceito de raça, dando destaque a ideia de que esta é um fenômeno moderno, do século XVI, relacionado a processos de hierarquização de parcelas humanas em relações de poder, colonialismo e expansão europeia. Analisando a consolidação do saber europeu pelo racismo cientifico e pela filosofia iluminista, o excerto encontra como o europeu justifica a dominação e exclusão dos povos considerados inferiores, explica a relação entre raça, poder e discriminação e aponta diferenças entre outros tipos de preconceitos.

Os fatores discorridos na leitura não podem ser analisados sem a interferência da palavra Autoridade, em toda a sua complexidade: poder de estabelecer classificações, impor regras e legitimar práticas sociais, políticas e científicas que determinam quem tem o direito de definir e quem será definido. A autoridade é o poder de estabelecer as sociedades evoluídas e as sociedades que ainda “estão por evoluir”, as desenvolvidas e as que estão em “processo de desenvolvimento”. A análise histórica da raça estabelece que a própria definição e utilização do termo raça é um exercício de autoridade, não é e nunca foi um termo estático; seu significado é moldado por conflito, poder e decisão. A autoridade para nomear, classificar e hierarquizar está na base da construção do conceito de raça como instrumento de dominação.


O iluminismo, que se apresentava sob a propaganda da razão universal e direitos universais, demonstra como um projeto de autoridade moral e intelectual -a Razão- foi adaptado e usado para justificar a expansão e a dominação do colonialismo. A negação da liberdade e igualdade aos haitianos revela a autoridade seletiva do universalismo liberal, que aplicava seus princípios apenas a determinadas parcelas. A raça, nesse sentido, surge como um mecanismo para sustentar a autoridade do colonizador e permitir a aplicação simultânea de ideais universais e práticas agressivas e desumanas de exploração e destruição.


A transição para o racismo científico no século XIX mostra uma mudança no setor responsável pela validação da autoridade da discriminação; agora, a filosofia toma um papel inteiramente secundário, e abre espaço para a fundamentação da autoridade da discriminação em teorias científicas variadas. Com essas teorias, busca-se uma base pseudo-objetiva para a justificação do neocolonialismo, da dominação e exploração dos “povos inferiores”, alegando as mais absurdas limitações físicas e mentais nos povos explorados.


Em suma entende-se que a raça não é apenas uma categoria, mas um campo de disputa pela autoridade: a autoridade de definir quem é humano, quem é civilizado, quem merece direitos; a autoridade de classificar e hierarquizar; a autoridade institucional para estabelecer normas e padrões que privilegiam e excluem; a autoridade estrutural de uma ordem social que reproduz desigualdades; e a autoridade política para governar e controlar populações. A luta antirracista, nesse contexto, é fundamentalmente uma luta por uma redistribuição e redefinição da autoridade na sociedade.


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