Ricardo vivia imerso em um estado de
tristeza e melancolia que o acompanhava como uma sombra fiel. Seus passos pelas
ruas movimentadas da cidade eram lentos e pesados, como se carregasse não
apenas o fardo de suas próprias dores, mas também o peso das contradições da
vida urbana. Ricardo era um pensador, um filósofo amador em seus momentos
solitários de reflexão, sempre voltando para casa após seu expediente. Ele se
sentia atraído pelas ideias complexas e profundas de Hegel, o filósofo alemão
que buscava compreender a natureza do ser, a evolução da consciência e as
contradições inerentes ao mundo.
Nos escritos de Hegel, Ricardo
encontrava uma espécie de espelho para sua própria existência. A dialética
hegeliana, com sua noção de tese, antítese e síntese, parecia refletir a luta
interna que ele travava consigo mesmo e com o mundo ao seu redor. As
contradições da cidade grande, as desigualdades sociais, a busca por
significado em meio ao caos urbano, tudo isso ecoava nas páginas dos livros que
ele devorava avidamente. Ricardo via São Paulo como um microcosmo das
contradições humanas. A riqueza e a pobreza, o luxo e a miséria, a agitação
frenética e a solidão profunda, tudo isso se entrelaçava nas ruas, nos prédios
altos, nos rostos apressados das pessoas que passavam por ele todos os dias.
Ele se perguntava se a cidade não seria, de certa forma, uma manifestação
material das contradições da própria alma humana.
Sua depressão era como uma antítese
que se contrapunha à tese da vida cotidiana. Ele se sentia preso nesse embate
constante, incapaz de encontrar uma síntese que trouxesse paz e harmonia. Seus
pensamentos mergulhavam nas profundezas do idealismo hegeliano, tentando
compreender a natureza da existência e o papel da dor e do sofrimento em todo o
processo de evolução. Ricardo não desistia totalmente da esperança. Ele via na
filosofia de Hegel não apenas um espelho de suas próprias angústias, mas também
uma luz que indicava a possibilidade de superação e crescimento. Assim, mesmo
em meio à escuridão, ele continuava sua jornada, buscando encontrar um sentido
mais profundo em sua própria vida e no labirinto de ideias e contradições que
permeavam a cidade de São Paulo.
Ricardo se via confrontado com a
dura realidade das circunstâncias que o rodeavam em São Paulo. Ele entendia,
como Marx disse, que os homens fazem sua própria história, mas não podem
moldá-la totalmente de acordo com seus desejos. As estruturas sociais,
econômicas e históricas que moldavam a cidade e a sociedade em que vivia eram
poderosas demais para serem transformadas por sua vontade individual,
percebendo que as forças que perpetuam a desigualdade, a alienação e a
injustiça eram profundamente enraizadas e complexas. Ele se sentia impotente
diante desse panorama, como se estivesse lutando contra moinhos de vento,
incapaz de provocar uma mudança significativa por si só.
Assim, ao final de suas reflexões,
já em casa, Ricardo se joga na cama que deixou desarrumada, e ao olhar para a
estante ao seu lado, com obras de Marx, Hegel e Engels, suspira exausto, sobra
a ele então a angústia e a vontade de não mais existir nessa realidade.
Maíra Janis de Sousa, 1º ano - noturno, RA: 211220868
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