A aristocracia científica e o espaço do conhecimento no âmbito social contemporâneo. (A ciência e a imaginação sociológica).
O renascimento cultural e urbano no início da Idade Moderna ressuscitou
o conhecimento científico na sociedade clássica até então submersa na cultura
religiosa medieval. Paradoxalmente, na era contemporânea, esse fenômeno se
apresenta às avessas: uma sociedade evoluída no que tange ao progresso
científico, no entanto, carente de senso crítico. Nesse viés, a curiosidade
capaz de gerar revoluções da intrínseca ao ser humano foi substituída, infelizmente,
pelas crendices populares largamente disseminadas nos meios sociais. Assim, o
papel da ciência no mundo contemporâneo está em processo de defasagem.
Em princípio arguitivo, é nítida a relevância do progresso
técnico para a sanidade do homem. No contexto da antiguidade clássica, o
célebre filósofo grego Aristóteles foi um dos primeiros a executar a ciência
natural em sua forma mais crua por meio da aplicação do método científico e da Teoria
das Quatro Causas. Em ampliação, as heranças do anseio pelo conhecimento
levaram a humanidade à evolução técnica tangível no contexto hodierno ao
possibilitar, gradualmente, condições sadias de existência para o coletivo
resultantes do progresso nas pesquisas das diversas áreas do conhecimento. Logo,
é evidente que a ciência está no cerne da evolução antrópica.
No entanto, a alienação social resultante da precarização do
alcance da ciência no mundo contemporâneo denota o caráter quase aristocrático
do acesso ao conhecimento. Tal fenômeno é ilustrado na célebre obra “Campo
Geral” de João Guimarães Rosa, na qual o protagonista, Miguilim, é
constantemente discriminado durante o enredo e considerado “abobado” e “imprestável”
devido às suas limitações de caráter corporal. Fora da ficção, muitos, assim
como Miguilim, são vítimas das crenças populares e valem-se de informações
equivocadas para solucionar questões de caráter científico; infelizmente, em
muitos casos, essas fontes disseminam falácias prejudiciais ao bem coletivo,
ocasionando uma crise informacional decorrente do apagamento do conhecimento
sistematizado no âmbito social.
Portanto, fica claro que a ciência exerce um papel
ambivalente na esfera coletiva porque, ao passo que ela é vital para o
bem-estar da humanidade, o acesso a ela se restringe às elites intelectuais.
Por conseguinte, infere-se que a Filosofia Aristotélica está fadada ao
apagamento no momento em que os “Miguilins” são privados do saber científico.
Dessa forma, a humanidade urge por um renascimento da ótica científica.
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