Em "A Imaginação Sociológica", de C. Wright Mills, a utilização do método homônimo oferece a capacidade de ver a partir de outras perspectivas, a fim de compreender o cenário histórico e político vivido e como chegou-se a tal. Dessa forma, pode-se utilizar seus argumentos, feitos em 1959, para embasar a visão de Grada Kilomba ao comentar o racismo em seu livro "Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano".
A princípio, vale ressaltar que o racismo não é uma perturbação pessoal, e sim uma questão estrutural na sociedade. Grada Kilomba trata do preconceito que sofreu no ambiente acadêmico alemão, sendo vista como intrusa em locais e precisando fazer processos não exigidos de estudantes brancos, porém sua crítica se estende até a sociedade brasileira, dentro e fora da academia, pois, além da necessidade da Lei de Cotas em universidades para garantir a formação de mais pessoas negras, profissionais negros são questionados em suas habilidades e formações, como ocorreu com uma neurologista negra em Sergipe, a qual teve um paciente que exigiu que mostrasse seu número de registro no Conselho Regional de Medicina, mesmo que o dado já estivesse disponível antes da consulta.
Além disso, é importante destacar como discussões sobre o racismo são tratadas com desdém em vez da devida preocupação. Ao falar sobre situações cotidianas de racismo, pessoas negras se deparam com a ideia de que estão apenas "exagerando" ou que é uma situação exclusivamente pessoal, e que deveria ser tratada como tal. No entanto, a ideia presente no livro de Mills sobre grandes questões estruturais serem reduzidas a problemas a serem tratados individualmente, com o propósito de evitar o questionamento em massa do problema, é comprovada no Brasil com a Lei 14.532/2023, na qual a decisão muito criticada de não comparar injúria racial ao crime de racismo foi finalmente retificada, pois não é possível ofender alguém com base em sua raça sem fazer isso de modo racista, ofendendo a todos com as mesmas características.
Logo, é perceptível como o racismo é presente na sociedade brasileira contemporânea. Apesar de avanços realizados em sua punição, é necessário também uma mudança na estrutura da sociedade, ainda construída com base na sociedade escravagista do século XIX.
Beatriz Perussi Marcuzzo, 1º ano - noturno, RA: 241220459
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