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terça-feira, 21 de março de 2023

AS CONSEQUÊNCIAS DE UM ATO ISOLADO


O suicídio, para Émile Durkheim, é “todo o caso de morte que resulta, direta ou indiretamente, de um ato, positivo ou negativo, executado pela própria vítima, e que ela sabia que deveria produzir esse resultado. [...] Cada sociedade está predisposta a fornecer um contingente determinado de mortes voluntárias”. Tendo isso em vista, é possível afirmar que o autor pegou um ato isolado, no qual um indivíduo tira a própria vida, e trouxe para uma perspectiva ampla, em nível social. Isso sucedeu devido ao uso que o sociólogo fez da “Imaginação Sociológica”, o que, de modo condensado, consiste na percepção de que uma ação solitária pode interferir em uma sociedade, positiva ou negativamente.

Precipuamente, é um fato incontestável que pessoas negras são extremamente discriminadas e segregadas por grande parte da sociedade, como se uma cor diferente da maioria tornasse um indivíduo menos humano. É um destaque que, ao invés de ser admirado, assusta muitos. O corpo social sente a necessidade de colocar todos dentro de caixas e rótulos para que seja mais fácil apreciar ou julgar. A ideia de que os seres humanos são divididos por cores começou com o zoólogo alemão Johann Blumenbach, que por volta do século XVIII dividiu-os em brancos, vermelhos, amarelos, marrons e pretos. Pouco tempo depois surgiu Arthur Gobineau que defendia a ideia de que existiam raças inferiores e superiores, servindo de embasamento para o estudo posterior de muitos pesquisadores, que chegaram a uma errônea constatação de que os negros são de uma raça menor, vindo a gerar déspotas como Adolf Hitler que tiveram como luz essa visão vil. Atos isolados como esses, tiveram uma repercussão em toda a sociedade da época e consolidou-se nos séculos vindouros, pensamentos que segregam pessoas baseados em premissas sem embasamento e com uma lente totalmente preconceituosa deveriam ser erradicados e não fortalecidos.  

Analogamente, é válido afirmar que essa discriminação, no Brasil, para com os negros são consequências da escravidão, visto que após a promulgação da Lei Áurea os negros não tiveram qualquer auxílio de políticas públicas para serem inseridos na sociedade, continuaram sendo segregados e vistos como inferiores aos brancos. O livro “O avesso da Pele”, de Jeferson Tenório, fala justamente sobre o assunto supracitado: o racismo estrutural, um pré-conceito enraizado na sociedade. A história se passa na cidade de Porto Alegre e é contada por Pedro, um filho que perdeu o seu pai de forma trágica por conta do racismo. O jovem conversa com quem lê de uma maneira simples e, concomitantemente, dolorosa. A obra faz com que o leitor reflita sobre as raízes do preconceito racial, da razão pela qual um negro tem uma vivência mais difícil na sociedade, enquanto está mergulhado na brutal história de vida de um professor que só queria mudar a vida de algumas pessoas negligenciadas e torná-las humanas, querendo que sua ação solitária nas salas de aula mudasse, de alguma forma, o pensamento da sociedade, ou de parte dela.

Diante desse cenário, portanto, podemos concluir que o tema racismo, assim como tantos outros, podem servir de exemplo para que você, leitor, entenda o que é a imaginação sociológica e saiba que ela é a percepção do Eu no mundo, a maneira que a atitude de um indivíduo pode vir a impactar em todo o corpo social. Uma ação de séculos atrás reverbera até os dias de hoje. Ao invés de seguir a perspectiva de Durkheim, quebre o padrão, não esteja predisposto a fornecer um contingente de subsídios para a morte voluntária de outrem, um ato isolado tem suas consequências.

1º Ano de Direito (Matutino)

RA: 231223552

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