Ao longo da segunda metade do século XIX, manifestam-se os primeiros prenúncios de uma nova corrente filosófica, denominada Positivismo. Esse segmento crítico-revolucionário, constituído massivamente pela burguesia, possui muita importância para o desenvolvimento de uma ideologia conservadora que se mantém presente até o momento atual. Pode-se dizer que esse caráter conservadorista é associado à sua origem, tendo em vista que Auguste Comte, considerado pai do positivismo, elabora a ideia principal dessa filosofia após a Revolução Francesa, especificamente no período em que a burguesia batalhava intensamente contra os interesses da classe proletária.
Sob esse prisma, é importante salientar alguns princípios essenciais para a estruturação da teoria positivista. No que diz respeito às ciências sociais e da natureza, essas deveriam ser limitadas à elucidação, de maneira direta, imparcial e desprendida de ideologias e de pré-conceitos. Nesse sentido, é viável pontuar que a premissa da neutralidade frente às ciências da sociedade faz com que a conjuntura histórico social seja desprezada, ou seja, não há uma ligação entre a ciência social e o conhecimento científico positivista. Assim sendo, pode-se pontuar que o positivismo não é anacrônico, haja vista que hodiernamente essa corrente filosófica ainda desempenha influência na sociedade, de maneira análoga, os programas de escolas sem partido são representantes dessa filosofia.
Sob esse ponto de vista, deve-se ressaltar a relação entre o objetivo do movimento Escola Sem Partido e o Positivismo. De forma sucinta, pode-se dizer que esse movimento visa alcançar cidadãos que sejam passivos, inertes, às leis em vigor, além de as admitirem, a fim de preservar a ordem social. Esse é o ponto de convergência entre a proposta ‘educacional’ e a corrente filosófica, tendo em vista que, na visão positivista, a sociedade é administrada por leis naturais, que funcionam independentes dos anseios e das vontades dos homens, e, principalmente, invariáveis.
No entanto, esse pressuposto de neutralidade nas escolas, e nas ciências sociais, é a aspiração mais almejada pela classe dominante, uma vez que, com a falta de posicionamento, a probabilidade da emancipação do oprimido é nula. Assim, é de vontade da camada conservadora defender seus próprios interesses e ideologias sob o aspecto da neutralidade. Posto isso, evidencia-se que todo conhecimento, científico ou social, é tomado de ideologias de um grupo social. É nesse momento que o marxismo manifesta-se criticamente em oposição à premissa de neutralidade ostentada pelo positivismo. Sendo assim, na visão de Marx, assumir determinado posicionamento não seria um empecilho para alcançar o conhecimento, pelo contrário, a tomada de partido é requisito primordial para compreender a realidade.
Portanto, sob o contexto da neutralidade educacional, é imprescindível questionar-se: de que têm medo esses setores conservadores contrários à politização da educação? Será temor de uma ascensão juvenil estimulada a questionar e problematizar as profundas desigualdades vigentes na sociedade? Será apreensão de uma juventude que não corrobora e não consente com a existência de concentração de privilégios a uma classe minoritária? Ou será medo de um ensino libertador que incentivasse a questionar a ‘ordem’, ao contrário de aceitá-la bovinamente?
Clara Crotti Cravo - 1° Semestre - Diurno
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