Quando
os renomados sociólogos alemães Karl Marx e Friedrich Engels escreveram seus
famosos textos acerca do modelo capitalista da época, o proletariado, termo
usado pelos próprios autores, se encontrava em uma situação de exploração. De
acordo com tais pensadores, essa situação se estabelecia basicamente porque a
burguesia, ao invés dos próprios trabalhadores das fábricas, era a detentora
dos meios de produção. No contexto do desenvolvimento das ideias de Marx,
portanto, os operários das fábricas trabalhavam durante horas em um cenário
alienante e degradante, além de receberem baixos salários.
Atualmente,
um século depois da obra de Marx e Engels, houve um desenvolvimento da ideia de
Direito Trabalhista e, nesse sentido, uma análise superficial do atual cenário
poderia concluir que a situação do proletário melhorou ao longo dos anos. No
entanto, se observarmos as mudanças ocorridas, compreendemos a incoerência de
tal pensamento.
Nos
tempos do chamado “capitalismo flexível”, os indivíduos são incentivados, por
exemplo, a trabalhar em casa, utilizando as novas ferramentas tecnológicas de
comunicação. Dessa forma, alguém poderia indagar: “Ora, mas isso é um avanço,
não? Estamos trabalhando no conforto de nossa casa! Podemos fazer nossos próprios
horários. ”, mas não, não é um avanço. O fato de estarmos mais confortáveis faz
com que, sem percebermos, ultrapassemos facilmente o período de trabalho. Além
disso, o uso da internet e das outras ferramentas permite que sejamos cobrados
24 horas por dia, em qualquer dia da semana.
Diante
de tal problema, um indivíduo também poderia afirmar que, nos moldes do sistema
atual, podemos ser “nosso próprio patrão”, basta que criemos um empreendimento
ou comecemos um projeto sozinhos. “Ah, a beleza do capitalismo flexível! ”. No
entanto, existem muitos empecilhos no processo de criar um novo negócio,
completamente inovador e que seja capaz de satisfazer nossas necessidades
básicas e ainda os luxos consumistas de nosso tempo.
“Pois
então inove, reinvente-se, faça um curso, busque um coach de negócios! ”. A
pergunta é: qual é a parcela da população que tem as ferramentas necessárias
para “se reinventar” quando preciso, contratar um coach para todos os âmbitos de
sua vida e ainda manter a sua saúde física e mental em um cenário tão exigente?
É evidente que apenas os mais privilegiados poderiam manter tal estilo de vida.
Para
esclarecer o contexto apresentado, avaliemos um exemplo dos moldes trabalhistas
atuais. Segundo o IBGE, a taxa de informalidade no mercado de trabalho foi de
40,6% no primeiro trimestre de 2020, atingindo 38 milhões de trabalhadores
brasileiros[1]. Dentro
desse cenário, uma das ocupações informais em crescimento se refere à dos
entregadores por aplicativos, considerado um exemplo desses empregos “flexíveis”
da atualidade, os quais não estabelecem vínculos empregatícios entre contratado
e contratante.
Em
julho de 2019, o entregador Thiago de Jesus Dias sofreu um AVC durante seu
expediente e acabou falecendo. O que surpreende no caso de Thiago é que, quando
a cliente contatou o aplicativo de entrega para avisar que o entregador estava
passando mal, obteve a seguinte resposta: “pediu para que déssemos baixa no
pedido para que eles conseguissem avisar aos próximos clientes que não
receberiam seus produtos no horário previsto”[2].
O
exemplo de Thiago mostra que, apesar de muitos acreditarem que as ideias de
Marx estão ultrapassadas, pois não existiriam mais situações de exploração e
alienação do trabalhador em tempos de capitalismo flexível, podemos sim afirmar
que o estudo de tal pensador se torna ainda mais necessário diante de tal contexto.
Dessa forma, podemos classificar a obra de Marx como atemporal, não perdendo e,
ao contrário, aumentando sua importância ao longo dos anos.
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