Positivismo: corrente filosófica
criada por Auguste Comte, a qual visa o progresso por meio da ciência em
detrimento das filosofias teológicas e metafísicas. De fato, a plenitude do
conhecimento científico trouxe, juntamente aos avanços técnicos, uma grande
rigidez na forma de pensar, aprisionando as concepções de mundo a métodos e
padrões, o que acabou por gerar muitas mentes fechadas conservadoras. No
Brasil, tal influência o acompanha desde o século XIX, fomentando o lema “Ordem
e Progresso” na bandeira nacional enquanto o que realmente progrediu foi o
subdesenvolvimento e a opressão às minorias em nome de um forte controle
estatal por uma suposta manutenção do sistema. Assim, questiona-se: seria
racionalidade oprimir para evoluir?
As ideias
positivistas chegaram ao Brasil por volta de 1850, ganhando destaque,
inicialmente, no processo de abolição da escravidão anos mais tarde. Miguel
Lemos e Raimundo Teixeira Mendes foram os fundadores da primeira instituição de
caráter positivista no país, o Apostolado Positivista, a qual era favorável ao
fim da escravatura, militando desde 1881 por intermédio de opúsculos e
correspondências direcionadas, inclusive, a Dom Pedro II. Extinguir o sistema
escravista era visto como um passo fundamental para a sonhada incorporação do
proletariado na sociedade moderna, como desejava Comte, tornando importante
incorporar os negros econômica e moralmente à nação. Assim, haveria um salário
base para o trabalhador manter sua família, a qual é muito valorizada pelo
positivismo, além de sobrar capital de investimentos escravistas para
desenvolver industrialmente o país, o que poderia acarretar em uma aliança
entre a burguesia e o Estado, como na França, onde tinha o ideal de Comte de
controlar o movimento operário, não separando a economia política da ciência e
da sociedade, já que usou formas científicas para sistematizar o que
considerava uma “ameaça anarquista”.
Infelizmente,
a abolição da escravidão no Brasil não passou de uma mera conquista formal no
país, trazendo uma suposta liberdade a qual nada menos fez do que simplesmente
colocar na ilegalidade uma forma de trabalho tão abusiva, não garantindo, em
forma de lei, quaisquer seguranças e dignidade para os negros, sendo estes
marginalizados e discriminados em sociedade. Dessa forma, sem ter onde ficar, foram se espalhando pelas periferias das cidades, contribuindo com o processo
de favelização, além do crescente aumento da incidência de crimes nas mesmas pela falta de condições de vida e pela revolta à segregação social.
Ironicamente, pensando que seria positiva para a crise monárquica, a Lei Áurea
acabou sendo uma das principais motivações para a Proclamação da República no
Brasil em 1889, ao acabar com a principal mão-de-obra dos grandes
latifundiários, gerando mais adeptos à oposição do governo de Dom Pedro II.
Assim, com a crescente dispersão de ideais positivistas pelo país,
principalmente pelo setor militar, tais homens acabaram assumindo o poder,
transmitindo o ideal de “ordem e progresso” à uma sociedade à deriva em sua
instabilidade, parecendo perfeito acatar a um lema desses. A justiça disso
tudo, por sua vez, demonstrou amparar somente o lado privilegiado da situação,
regredindo em um suposto progresso que, em prática, oprime minorias para
alavancar.
Logo, o
Positivismo como ideologia no Brasil – embora tenha contribuído significativamente
no sistema educacional do país com a reforma de Benjamin Constant e na
institucionalização do republicanismo – se consolidou em moldes conservadores
por seu apreço pela ciência e a racionalidade, perdendo a sensibilidade humana
de analisar as situações, valorizando o que convém, principalmente à economia e
à manutenção do sistema, ocultando os grandes problemas do país por meio de
mídias manipuladoras e fortes aparatos coercitivos. Vale ressaltar também que
por esse estilo de pensamento que muitos preconceitos foram institucionalizados
e acentuados em sociedade, como o próprio racismo decorrente de uma antiga
nação escravocrata e de abolição insuficiente, trazendo dificuldades para minorias
até hoje. O progresso não é resultado claro de um raciocínio só por este ter
bases na ciência, mas sim quando ele parte, não importando de onde, pelo
bem-estar da nação. O ser humano é mais do que racionalidade: ele é respeito e
dignidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário