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segunda-feira, 19 de março de 2018

Caminhos retos, destinos sinuosos


Positivismo: corrente filosófica criada por Auguste Comte, a qual visa o progresso por meio da ciência em detrimento das filosofias teológicas e metafísicas. De fato, a plenitude do conhecimento científico trouxe, juntamente aos avanços técnicos, uma grande rigidez na forma de pensar, aprisionando as concepções de mundo a métodos e padrões, o que acabou por gerar muitas mentes fechadas conservadoras. No Brasil, tal influência o acompanha desde o século XIX, fomentando o lema “Ordem e Progresso” na bandeira nacional enquanto o que realmente progrediu foi o subdesenvolvimento e a opressão às minorias em nome de um forte controle estatal por uma suposta manutenção do sistema. Assim, questiona-se: seria racionalidade oprimir para evoluir?
                As ideias positivistas chegaram ao Brasil por volta de 1850, ganhando destaque, inicialmente, no processo de abolição da escravidão anos mais tarde. Miguel Lemos e Raimundo Teixeira Mendes foram os fundadores da primeira instituição de caráter positivista no país, o Apostolado Positivista, a qual era favorável ao fim da escravatura, militando desde 1881 por intermédio de opúsculos e correspondências direcionadas, inclusive, a Dom Pedro II. Extinguir o sistema escravista era visto como um passo fundamental para a sonhada incorporação do proletariado na sociedade moderna, como desejava Comte, tornando importante incorporar os negros econômica e moralmente à nação. Assim, haveria um salário base para o trabalhador manter sua família, a qual é muito valorizada pelo positivismo, além de sobrar capital de investimentos escravistas para desenvolver industrialmente o país, o que poderia acarretar em uma aliança entre a burguesia e o Estado, como na França, onde tinha o ideal de Comte de controlar o movimento operário, não separando a economia política da ciência e da sociedade, já que usou formas científicas para sistematizar o que considerava uma “ameaça anarquista”.
                Infelizmente, a abolição da escravidão no Brasil não passou de uma mera conquista formal no país, trazendo uma suposta liberdade a qual nada menos fez do que simplesmente colocar na ilegalidade uma forma de trabalho tão abusiva, não garantindo, em forma de lei, quaisquer seguranças e dignidade para os negros, sendo estes marginalizados e discriminados em sociedade. Dessa forma, sem ter onde ficar, foram se espalhando pelas periferias das cidades, contribuindo com o processo de favelização, além do crescente aumento da incidência de crimes nas mesmas pela falta de condições de vida e pela revolta à segregação social. Ironicamente, pensando que seria positiva para a crise monárquica, a Lei Áurea acabou sendo uma das principais motivações para a Proclamação da República no Brasil em 1889, ao acabar com a principal mão-de-obra dos grandes latifundiários, gerando mais adeptos à oposição do governo de Dom Pedro II. Assim, com a crescente dispersão de ideais positivistas pelo país, principalmente pelo setor militar, tais homens acabaram assumindo o poder, transmitindo o ideal de “ordem e progresso” à uma sociedade à deriva em sua instabilidade, parecendo perfeito acatar a um lema desses. A justiça disso tudo, por sua vez, demonstrou amparar somente o lado privilegiado da situação, regredindo em um suposto progresso que, em prática, oprime minorias para alavancar.
                Logo, o Positivismo como ideologia no Brasil – embora tenha contribuído significativamente no sistema educacional do país com a reforma de Benjamin Constant e na institucionalização do republicanismo – se consolidou em moldes conservadores por seu apreço pela ciência e a racionalidade, perdendo a sensibilidade humana de analisar as situações, valorizando o que convém, principalmente à economia e à manutenção do sistema, ocultando os grandes problemas do país por meio de mídias manipuladoras e fortes aparatos coercitivos. Vale ressaltar também que por esse estilo de pensamento que muitos preconceitos foram institucionalizados e acentuados em sociedade, como o próprio racismo decorrente de uma antiga nação escravocrata e de abolição insuficiente, trazendo dificuldades para minorias até hoje. O progresso não é resultado claro de um raciocínio só por este ter bases na ciência, mas sim quando ele parte, não importando de onde, pelo bem-estar da nação. O ser humano é mais do que racionalidade: ele é respeito e dignidade.

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