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sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Teleologia de novo?

A despeito da desconstrução promovida por Nietzsche no século XIX, é ainda visível no mundo contemporâneo uma grande afeição pelas chamadas filosofias teleológicas. Tal pensamento atravessou a história: desde Aristóteles, passando por autores como Comte e, finalmente, Karl Marx. A ideia de uma “causa final” ou “destino inexorável” dos seres humanos ainda é, para muitos, perfeitamente plausível. O caminho único para onde nos direcionamos.
            A abordagem que promovo deve ser cuidadosa: ao traçar uma crítica aos pensamentos teleológicos, não pretendo, de forma alguma, desmerecer a obra dos autores que professam essa ideia. Ora, o fato de um autor possuir concepções teleológicas não exclui, ao meu ver, a relevância de todas as suas abordagens. Pelo contrário, esse aspecto deve ser analisado separada e cuidadosamente em um sistema filosófico, justamente para que não existam esses preconceitos que, em verdade, não se justificam. No caso do próprio Aristóteles, não seria apropriado, por exemplo, desmerecer seu pensamento epistemológico em razão de existir, no pensamento desse grego, um enfoque teleológico. Esse é um cuidado que os críticos da teleologia devem ter.
            Porém, não é sobre a teleologia em Aristóteles que irei tratar (apesar de existirem muitas correntes que professam essas ideias), tampouco sobre essa ideia no pensamento comteano, já amplamente rejeitado. Discorro aqui sobre a ideia de “causa final” ou “destino inexorável” na concepção de outro autor: Karl Marx. Perguntar-se-á por que, dentre tantos outros defensores dessas ideias, Marx é o merecedor de maiores atenções nessa crítica, e a resposta é simples: o impacto de seu pensamento no mundo contemporâneo, que mobiliza grupos e classes, bem como invade os espaços sociais e as mentes dos jovens.
            Não adentrarei muito profundamente nas questões políticas, econômicas e sociais na concepção marxista, limitando meu enfoque à questão da teleologia, traçando reflexões acerca desses demais aspectos somente para satisfazer uma argumentação relacionada a essa última ideia.
            E não é necessário refletir muito para encontrar falhas no pensamento teleológico (marxista, neste caso): a questão da circunstancialidade nos traz uma primeira resposta. Nas acepções contemporâneas, o termo “marxismo” é plurívoco, e estende-se desde as ideologias stalinistas, até àquilo que chamamos hoje de social democracia. Este último exemplo é emblemático: se no fim do XIX a única saída para o proletarizado era a tomada dos meios produtivos e a estatização destes em prol da coletividade, com o advento da social democracia, ou seja, a busca pela conciliação dos direitos civis e políticos com os sociais, culturais e econômicos, um outro caminho, aparentemente muito mais harmônico, passou não só a existir, mas, também, a ser trilhado.
            Eis o primeiro desvio do “final inexorável” na teleologia marxista. Dizer-se-á que, na prática, a social democracia está sempre vinculada aos ideais de esquerda, ou mesmo que chega a ser um caminho ao socialismo, o que estaria de acordo com as concepções do filósofo alemão. É fato que a social democracia professa, ao menos retoricamente, diversos discursos em favor das classes proletárias. Contudo, uma coisa é indiscutível: predominantemente, em prática, as ideias surgidas junto à constituição mexicana de 1917 e a República de Weimar, ao menos em suas acepções contemporâneas, buscam uma conciliação de interesses socioeconômicos, e não a proeminência de uma classe em detrimento de outra.
            Surge a indagação acerca de qual a verdadeira força do marxismo face ao advento da social democracia. Tendo em vista os movimentos políticos e sociais que se manifestam na sociedade contemporânea, esta última parece gozar de mais prestígio e adesão. É simples constatar isso: mesmo entre os grupos de esquerda, dificilmente se encontrarão posições favoráveis a uma ditadura do proletariado em países como França, Inglaterra, EUA, Brasil, Japão, Alemanha e tantos outros. Mesmo a questão da estatização de empresas, ainda que lenta e gradual, parece, nesses países, ser tema estagnado, parecendo inclusive serem mais propícias as privatizações.
            Uso a questão da social democracia, dentre tantos outros exemplos que poderiam ser dados, para provar que a circunstancialidade, nesse caso, vinculada a processos sociais e políticos que remontam à Europa e América do início do XX, desmonta a acepção teleológica de Marx: a ideologia comunista, se o mundo continuar seguindo tal rumo (o que, como demonstrado, parece provável), ao menos em sua forma pura, não será capaz de firmar as ditaduras do proletariado, a estatização de empresas e o fim do capitalismo, ou seja, essa ideologia não irá se firmar. O mundo parece seguir rumos muito mais vinculados à liberdade, seja moral, sexual, política, civil ou econômica.

Higor Caike - 1º ano, noturno

            

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