O escritor brasileiro Mário de Andrade, em sua obra Macunaíma, discorre
sobre a formação da identidade nacional, em um contexto no qual buscou-se uma
maior valorização da cultura tupiniquim. Macunaíma ou o “herói de nossa gente”
é protagonizado por um índio preguiçoso, o qual não possui nenhum caráter. Analogamente,
em um país embasado, não raro, em costumes pútridos e hábitos pernicioso
velados, a imoralidade normatiza-se, arraigando-se em solo brasileiro e
culminando em crises de representatividade, corrupção social e dominação
messiânica.
Para o jurista Max Weber, um dos fundadores da sociologia, uma das tarefas essenciais de qualquer ciência da vida cultural dos
homens é, realmente, desde o início, a apresentação clara e transparente de
suas ideias, para que estas sejam compreendidas. Dessa maneira, temos, na
conjectura hodierna, que parte da crise da representatividade pode ser
elucidada pela falta de esclarecimento prestado pelos representantes à nação em
quesitos fundamentais para que houvesse um funcionamento eficiente do aparato estatal,
destacando-se elementos políticos, econômicos e sociais.
Vale destacar que tal crise de representatividade é agravada, muitas
vezes, por atos fraudulentos cometidos por políticos os quais transgridem o status quo e promovem enfraquecimento da
máquina estatal. Estes são oriundos do corpo social e frutos de um sistema no
qual delitos leves são trivializados, fato que proporciona que impunidades
fiquem estagnadas e que generalizações sejam firmadas. Assim, para Weber, a compreensão
sociológica deve levar em conta que, mesmo quando se trata de analisar entes
coletivos, está em foco a ação de indivíduos, ou seja, normatizações de fatos
sociais devem ser freadas e ações individuais explanadas, evitando-se, assim,
ideologias coletivas as quais estabeleçam ações danosas e minimizem condutas
individuais nocivas.
Circunstâncias nas quais fatos sociais são normatizados podem ser fruto
de uma ação social a qual está atrelada ao poder e dominação conferidos por
figuras messiânicas, as quais são responsáveis por fixar ideologias gerais que,
teoricamente, poderiam salvar a nação de todo o mal. Para Weber, ser dominado
implica na aceitação de um modo de condução da vida “vinda de fora”. Como
exemplo, pode-se constatar a forte influência exercida por juízes responsáveis
pela operação lava- jato (conjunto de investigações conduzidas pela polícia
federal brasileira), os quais são exaltados como “salvadores da pátria”.
Portanto, em uma sociedade nascida sob a égide de Macunaíma, constata-se a
normatização de imoralidade, respaldada em costumes pútridos e em hábitos
perniciosos velados. Ademais, com o auxílio de Weber, elucida-se que parte da
crise da representatividade pode ser explicada pela falta de esclarecimento
prestado pelos representantes à nação bem como com normatizações de fatos
sociais, as quais transgridem o status
quo e promovem enfraquecimento da máquina estatal. Além disso, o poder e a dominação
conferidos por figuras messiânicas criam uma utopia de que estes poderiam
salvar a nação de todo o mal. Entre crise da representatividade, corrupção
social e dominação messiânica, a conjuntura brasileira é definida.
Isadora Mussi Raviolo, 1º Direito, Noturno
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