Anita Malfatti foi duramente critica por pintar o torso
de um homem nu no inicio do século XX, a atitude da artista confrontou os
valores morais vigente da época e por esse motivo inúmeros críticos hostilizaram
a jovem pintora que entrou em depressão e parou de pintar por um ano. Anita ao
criar seus quadros desafiou as concepções coletivas consideradas inabaláveis e
desestabilizou fatos sociais que serviam de sustentação para a organização da
sociedade brasileira. Ela confrontou o patriarcado e as funções determinadas
para cada gênero. Sempre que uma pessoa na historia ousou questionar a
estrutura social vigente a reação dos conservadores foi de repressão.
Émile Durkheim, pai da sociologia, apontou em sua obra que
a ideias são penetradas em nós através de uma imposição, que comprova sua existência
quando alguém tenta violar as leis da
sociedade (como no caso de Anita Malfatti). Essas convenções se voltam
contra quem as questiona tentando impedir ou anular seu ato, através da consciência
pública que exerce vigilância e repressão à todos que desequilibram as
construções coletivas e morais que constituem os fatos sociais.
Émile Durkheim foi responsável por determina o objeto de
estudo da sociologia: o fato social. O fato social para o sociólogo é
determinado por fatores externos que possuem poder imperativo e coercitivo e se
transveste de hábito e por esse motivo muitas das vezes não é questionada se
suas influências nos indivíduos e na sociedade são negativas ou positivas.
Menina gosta de rosa, Menino gosta de azul. Menina gosta
de boneca, Menino de carrinho. Menina é calma, Menino é bagunceiro. Menina gosta
de português, Menino gosta de matemática. Mulher gosta de cozinhar, Homem gosta
de dirigir. Mulher é responsável pelo lar, Homem é responsável pelo trabalho. Mulher
é romântica, Homem é tarado. Existem inúmeras regras da sociedade, que são
vistas pelo senso comum como diretrizes comportamentais para homens e mulheres.
Por isso é gerada tanta polemica e discussão quando questões de gênero são
colocadas em pauta. A reação da parcela mais conservadora é sempre intensa,
afinal de contas estão sendo colocados em prova fatos sociais que sempre foram
ensinados como verdades inquestionáveis. Mesmo que o mínimo exercício hipotético
e de imaginação, alienado com um pouco de senso critico, seja suficiente para
demostrar que premissas como “Mulher gosta de cozinha, Homem gosta de dirigir” são
apenas construções sociais, (que podem e devem ser desconstruídas, pois afetam
negativamente homens e mulheres) o apego do ser humano com as coisas que conhece
é tão grande que sua única atitude é rejeitar o diferente.
Como Émile Durkheim exemplifica em sua obra As Regras do
Método Sociológico ” O tipo de habitação a nós imposto não é senão a maneira
pela qual todo o mundo, em nosso redor, - em parte as gerações anteriores, - se
acostumaram a construir casas ”, as atividades associadas aos gêneros também são
basicamente costumes, convenções sociais, que possuem origem histórica, sem
qualquer ligação biológica/fisiológica com a identidade de gênero de cada pessoa.
No entanto deve ser questionado como essas ideias afetam a vida dos indivíduos,
porque a partir do momento que um fato social traz malefícios para a sociedade
e só é mantido por tradição, esse fato deve ser desconstruído e eliminado, em nome da harmonia da sociedade e de sua própria evolução.
Associar determinadas funções, atividades, gostos e
atitudes a identidade de gênero na sociedade atual é totalmente anacrônico, não
tem nenhum objetivo ou beneficio, é apenas costumeiro. Essas construções que envolvem
homens e mulheres apenas criam limitações que buscam homogeneizar as vontades e
expressões humanas, criando regras que engessam a liberdade do individuo. Na
maioria dos casos as principais afetadas por esses fatos sociais são as
mulheres, pois existe inúmeras coisa que são negadas a elas, cujas liberdades
são sempre cerceadas e costumam ser induzidas a assumir papeis de submissão.
Não existe problema em Homem gostar de cozinhar e Mulher gostar de dirigir, o
problema é limitar homens e mulheres a agir de uma única maneira e reprimir
pessoas que realizem qualquer atividade que não seja pré-determinada para o seu gênero.
Construções sociais que envolvem gêneros não são negativas apenas para os indivíduos que compõem a coletividade, elas são maléficas para toda a sociedade, pois limitam o seu desenvolvimento. Uma pesquisa realizada em 2015 pelo psicólogo Meltzoff, Ph.D. em Oxford, especialista em desenvolvimento infantil e co-diretor do Instituto de Aprendizado e Ciências do Cérebro da Universidade de Washington, demonstrou que apesar de meninos e meninas terem predisposições e desempenhos iguais para matemática, o numero de rapazes que ingressam em curso superior na área é muito maior, tendo em vista que meninas são desencorajadas por estereótipos culturais a seguir em áreas acadêmicas consideradas masculinas.
Quantas mulheres não deixaram de contribuir em áreas que possuíam
habilidades, pelas pressões exteriores exercidas? E quantos homens não seguiram
em áreas consideradas femininas? Quantas assistentes sociais poderiam ser incríveis
físicas ou quantos matemáticos poderiam ser incríveis enfermeiros, mas não
exerceram essas atividades devido a fatores sociais que tomaram decisões por
eles. Quantas Anitas ainda serão necessárias para que a sociedade possa
aprender a desconstruir fatos sociais que não possuem utilidade? Talvez se mais
pessoas estudassem Durkheim, mulheres e homens poderiam gostar de cozinhar e de
dirigir e a diversidade se tornaria regra e não exceção.
Augusto César de Oliveira - 1º Ano - Direito - Noturno.
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