O
socialismo científico de Engels e Marx, desenvolvido em meados do século XIX,
inaugura a luta histórica contra a propriedade privada e em prol da igualdade social
humana. Ao final do século XVIII, com a Revolução Francesa, o ideal da
liberdade passa a ser um pilar social, algo a ser buscado incessantemente. Mas
como ser livres em uma sociedade capitalista? Para os marxistas, a propriedade
privada condena o meio a ser desigual – economicamente, socialmente e
culturalmente. E é impossível haver liberdade quando há desigualdade: são
conceitos indivisíveis. Segundo o sociólogo estadunidense Immanuel Wallerstein:
“Que significa realmente o slogan ‘liberdade, igualdade, fraternidade’? O slogan da Revolução Francesa é familiar a todo mundo. Ele parece fazer referência a três fenômenos diferentes, cada um situado em três domínios entre os quais estamos acostumados a dividir nossas análises sociais: a liberdade no campo político, a igualdade no campo econômico e a fraternidade no campo sociocultural. E estamos igualmente habituados a debater a respeito de sua importância relativa, em particular entre a liberdade e a igualdade. A antinomia da liberdade e da igualdade parece-me absurda. Tenho dificuldades em ver como podemos ser “livres” se há desigualdade, já que aqueles que têm mais têm sempre mais opções que não são possíveis àqueles que têm menos e, por consequência, estes últimos são menos livres. E, do mesmo modo, tenho dificuldades em ver como a igualdade pode existir sem a liberdade uma vez que, na ausência de liberdade, alguns têm mais poder político que outros, donde se segue que há desigualdade. Não estou sugerindo nenhum jogo de palavras aqui, mas a rejeição da distinção entre liberdade-igualdade. Liberdade-igualdade é um único e mesmo conceito.” (WALLERSTEIN, 1989.).
Nisso
reside grande parte da crítica marxista ao capitalismo: em uma sociedade
baseada na exploração do trabalho, a liberdade não pode ser alcançada. Não há liberdade possível entre desiguais.
E a liberdade só tem sentido se for geral, universal. Se não, não passa de mero
privilégio de alguns. Por isso, Engels afirma em sua obra “Do Socialismo
Utópico ao Socialismo Científico”, que “(...)
a existência das classes contradiz a justiça, a igualdade etc.”.
Não
é surpresa, portanto, que a sociedade capitalista demostre tantas disfunções. Quanto maior a liberdade econômica, menor a
liberdade social. E quanto menor a liberdade social, maior a hierarquização
da sociedade e maior os índices de violência. Claro exemplo disso: os Estados
Unidos, nação de caráter claramente liberal e capitalista, têm cidades onde a
violência social é absolutamente dominante – em 2008, foram mortas mais pessoas
em Chicago do que na Guerra do Iraque. Enquanto isso, em países onde o Estado é
agente marcante na economia, como por exemplo, os países nórdicos (Suécia,
Finlândia, Dinamarca, Islândia e Noruega), lideram os rankings de países com
menor criminalidade no mundo.
É
a partir disso que se compreende a contemporaneidade das ideias propostas por
Engels e Marx. Para tornarem-se iguais, os homens têm que lutar contra a
opressão, desenvolvendo forças produtivas que superem as limitações capitalistas
e incentivem a igualdade e (consequentemente) a liberdade. O sol é para todos.
Lívia Armentano Sargi
Direito diurno
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