Engels, em sua teoria, emancipa o conceito até então cristalizado como socialismo.
À época do pensador, socialismo era traduzido como política e entendido como verdade a ser revelada; um resultado do processo metafísico. Para Engels, essa era uma visão utópica do socialismo. Portanto critica-o referindo-se ao seu método como fragmentador dos objetos no
processo de obtenção da clareza. Assim, Engels não acreditava que
somente pela razão pensante, esperando soluções vindas “de cima”
e negando a dialética, seria possível a concretização do
socialismo.
Dessa forma,
teorizou uma nova forma de doutrina, o Socialismo Científico. Em sua
obra, discorre o socialismo como pensado
cientificamente, devendo ser pautado no materialismo dialético.
Utilizou, para tanto, como fonte, o filósofo idealista Hegel. Hegel
foi representante do idealismo dialético. Apesar de Engels discordar
de seu pensamento idealista, aproveitou a inovação dialética da
teoria hegeliana. Assim, afirmava que Hegel pôde “libertar da
Metafísica a concepção da História” ¹. Aliado à Marx, Engels
traça as linhas do Materialismo Dialético, base para toda a
concepção do famigerado Socialismo Científico.
A passagem acima,
foi uma resenha rasa do que pode-se expor e discutir sobre a
trajetória do pensamento socialista. Isso porque, o que se faz
contundente aqui é a aplicação e explanação da teoria (e do
Marxismo) na realidade atual.
O poema “Elogio da
Dialética”, de Bertolt Brecht pode ser dissecado aos olhos da
teoria Marxista
Elogio Da Dialética
A
injustiça avança hoje a passo firme.
Uma
das ideias mais importantes de Marx é
a da
desigualdade social gerada
pelo sistema capitalista. Este,
está
sujeito à luta de classes, a
qual seria
o “motor” de toda
a história. A luta
de classes,
nesse
caso, é
a
protagonizada pela burguesia x proletariado. A desvantagem desse
com relação àquele é relevante
aqui em
dois pontos (dentre
vários):
o proletário não é dono dos meios de produção e o proletário é
sujeito à
mais
valia. A desvantagem no
primeiro caso é reversível – pensando na
classe
trabalhadora
como força motriz da
ruína
do sistema
caso
seus integrantes
se unam
para
alcançar a
práxis – entretanto, a do segundo caso é mais aderida à
realidade (e depende muito da práxis
da primeira para conseguir desjuntar).
Os
tiranos fazem planos para dez mil anos.
O
poder apregoa: as coisas
continuarão a ser como são.
continuarão a ser como são.
Nenhuma
voz além da dos que mandam.
O
burguês é a voz do poder, regendo o sistema. Segundo sua
perspectiva o capitalismo nunca deixará de existir, nada mudará.
Nesse sentido, o modo de produção (bosque) tecerá indivíduos,
leis, modo de governo e relações sociais (árvores). Para o
burguês, o modo de produção é imutável, para Marx e Engels, ele
pode ser transformado, ao passo que, a classe proletária adquira
consciência de seu poder transformador. Porém, até agora o
capitalismo continua sendo hegemônico, e o materialismo
consolida-se,
ou seja, as condições materiais determinam a consciência e
realidade dos
sujeitos.
E em todos os mercados proclama a exploração:
Isto é apenas o meu começo.
Mas
entre os oprimidos muitos há que agora dizem:
Aquilo que nós queremos nunca mais o alcançaremos.
Aquilo que nós queremos nunca mais o alcançaremos.
Aqui
cabe o papel da consciência de classe. Porém no panorama atual,
antes mesmo do proletário considerar-se impossibilitado de galgar um
estágio de não opressão, é preciso que ele tenha ao menos
consciência de que está sendo explorado, e se mobilize. Essa
consciência, sempre fora de responsabilidade de movimentos sociais e
sociólogos, e hoje em dia o
despertar cabe também
a uma
nova
personagem:
o rap, o hip hop. Como
por exemplo, nas
músicas
provocativas do
rapper Criolo:
“Retomando
às atividades do dia:
Lavar os copos, contar os corpos e sorrir
A essa morna rebeldia” (Lion Man)
Lavar os copos, contar os corpos e sorrir
A essa morna rebeldia” (Lion Man)
“O
mecanismo do sistema é sugar sua alma vivo
Seu sangue, seu suor, são só detalhe nisso” (Ainda há tempo)
Seu sangue, seu suor, são só detalhe nisso” (Ainda há tempo)
“O
opressor é omisso e o sistema é cupim” (Cartão de Visita)
“Eles
ficam assim, olhando pra mim, terceiro setor, vem que tem dimdim,
vendem a ideia de que são legais, nadar de costas vai jacaré
abraça!” (Chuva Ácida)
Nessas
letras o conceito de
“concreto vivido” está presente: é
o
cotidiano dos indivíduos, daqueles que precisam reconhecer sua
situação de exploração
Quem
ainda está vivo nunca diga: nunca.
O que é seguro não é seguro.
As coisas não continuarão a ser como são.
Depois de falarem os dominantes, falarão os dominados.
O que é seguro não é seguro.
As coisas não continuarão a ser como são.
Depois de falarem os dominantes, falarão os dominados.
Eis portanto a confirmação do que Marx e Engels pronunciaram: a dialética e sua dinâmica. Assim, como “todo ser é o que é, e outro diferente”, o sistema também transforma-se. Nenhuma tese é tão certeira que não se sujeite a uma antítese e esteja prestes a formar uma síntese (pódio completamente diferente da tese e da antítese). Assim, “os dominados falarão” por conta da renovação inerente à história das sociedades.
Quem
pois ousa dizer: nunca?
De quem depende que a opressão prossiga? De nós.
De quem depende que ela acabe? De nós.
O que é esmagado, que se levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe e o que se chegou, que há aí que o retenha?
Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã.
E nunca será: ainda hoje.
De quem depende que a opressão prossiga? De nós.
De quem depende que ela acabe? De nós.
O que é esmagado, que se levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe e o que se chegou, que há aí que o retenha?
Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã.
E nunca será: ainda hoje.
¹ ENGELS, Friedrich. Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico (1887). São Paulo: Centauro, 2005.
Ana Flávia Toller - 1º Ano Direito Diurno - Aulas 7 e 8 - Introdução à Sociologia.
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