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quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Uma questão de princípios


 Ao tratar do que chama de “espírito do capitalismo”, Max Weber traz à tona características desse modelo de produção negligenciadas pelo estudo de Marx e Engels, por exemplo, que se focam em seus aspectos de exploração e controle das massas. Em “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, Weber discorre minuciosamente sobre o caráter principiológico do capitalismo, afirmando que ele não consiste puramente no desejo de ter dinheiro, como muitas vezes acredita-se, até porque isso existiu em toda a história da humanidade, nas mais variadas espécies de pessoas.
O capitalismo envolve, antes de tudo a lógica racionalista de acumulação, de empreendedorismo que transforma uma moderada quantidade de dinheiro num aparelho revolucionário (ou apenas vendido pelo marketing como revolucionário) que irá resultar num lucro de milhões e milhões e no comedimento das ações de modo a preservar esse lucro.
Essa racionalização abrange vários campos da vida, de modo a dar um suporte ao desenvolvimento capitalista. Weber menciona a racionalização contábil, a jurídica, a científica, e a do homem: ou seja, tudo passa a ser visto a partir da ótica do lucro, da acumulação, transformando toda a concepção anterior do trabalho, da vida familiar, do Direito, da religião, da política, e de toda e qualquer relação social.
Observação importante é que todo esse princípio, ou toda essa “ética” do capitalismo surgiu com o protestantismo, e logo se emancipou e do campo religioso se universalizou, impregnando-se em toda a sociedade independentemente de credos, porque o valor principal passa a ser a acumulação de riqueza.
Dessa forma, se toda a organização capitalística surgiu de um princípio, de uma ética surgida a um nível pessoal (o que faz sentido, já que a ânsia por dinheiro não é nada nova ou revolucionária), inverte-se a relação colocada por Marx, de que é a infraestrutura, a relação econômica que determina todo o resto. E isso faz mais sentido ainda, porque como acreditar que uma determinada forma de organização econômica se estabeleceu por si própria em todo, ou pelo menos na maior parte do mundo e partir daí começou a dominar a vida das pessoas? Se esse modo de produção e de vida se infiltrou de tamanha forma na sociedade é porque foi aceita por ela, e porque condizia com seus princípios e convicções. Generalizando e talvez exagerando de forma a tornar-se mais compreensível, talvez seja possível dizer que não foi a economia que corrompeu a sociedade, mas a sociedade que corrompeu a economia.

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