Ao tratar do que chama de “espírito do capitalismo”, Max Weber
traz à tona características desse modelo de produção
negligenciadas pelo estudo de Marx e Engels, por exemplo, que se
focam em seus aspectos de exploração e controle das massas. Em “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, Weber discorre
minuciosamente sobre o caráter principiológico do capitalismo,
afirmando que ele não consiste puramente no desejo de ter dinheiro,
como muitas vezes acredita-se, até porque isso existiu em toda a
história da humanidade, nas mais variadas espécies de pessoas.
O capitalismo envolve, antes de tudo a lógica racionalista de
acumulação, de empreendedorismo que transforma uma moderada
quantidade de dinheiro num aparelho revolucionário (ou apenas
vendido pelo marketing como revolucionário) que irá resultar num
lucro de milhões e milhões e no comedimento das ações de modo a
preservar esse lucro.
Essa racionalização abrange vários campos da vida, de modo a dar
um suporte ao desenvolvimento capitalista. Weber menciona a
racionalização contábil, a jurídica, a científica, e a do homem:
ou seja, tudo passa a ser visto a partir da ótica do lucro, da
acumulação, transformando toda a concepção anterior do trabalho,
da vida familiar, do Direito, da religião, da política, e de toda e
qualquer relação social.
Observação importante é que todo esse princípio, ou toda essa
“ética” do capitalismo surgiu com o protestantismo, e logo se
emancipou e do campo religioso se universalizou, impregnando-se em
toda a sociedade independentemente de credos, porque o valor
principal passa a ser a acumulação de riqueza.
Dessa forma, se toda a organização capitalística surgiu de um
princípio, de uma ética surgida a um nível pessoal (o que faz
sentido, já que a ânsia por dinheiro não é nada nova ou
revolucionária), inverte-se a relação colocada por Marx, de que é
a infraestrutura, a relação econômica que determina todo o resto.
E isso faz mais sentido ainda, porque como acreditar que uma
determinada forma de organização econômica se estabeleceu por si
própria em todo, ou pelo menos na maior parte do mundo e partir daí
começou a dominar a vida das pessoas? Se esse modo de produção e
de vida se infiltrou de tamanha forma na sociedade é porque foi
aceita por ela, e porque condizia com seus princípios e convicções.
Generalizando e talvez exagerando de forma a tornar-se mais
compreensível, talvez seja possível dizer que não foi a economia
que corrompeu a sociedade, mas a sociedade que corrompeu a economia.
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