Racismo estrutural.
Em uma
grande cidade brasileira, um rapaz, um jovem negro, formado em engenharia,
decide se candidatar a uma vaga em uma prestigiada empresa de tecnologia. Desde
pequeno, sempre ouvira de sua mãe que precisava se esforçar "duas vezes
mais" para alcançar o que os outros conseguiam com metade do trabalho. Com
um currículo exemplar, fluência em três idiomas e experiência internacional, o
rapaz chega confiante à entrevista.
Do outro
lado da mesa, o recrutador o recebe com um sorriso cordial, mas hesitante.
Durante a conversa, faz perguntas sutis sobre “adaptação a ambientes
corporativos formais” e comenta que o perfil dele seria “melhor aproveitado em
setores mais dinâmicos e criativos”. Dias depois, o rapaz recebe a resposta:
não foi selecionado. A vaga foi preenchida por um candidato com menos
experiência e formação, mas com “perfil mais alinhado à cultura da empresa”.
Essa
situação, embora pareça individual, é um reflexo do que Silvio Almeida chama de
racismo estrutural. A ação do recrutador — segundo a teoria de Max Weber — é uma
ação social orientada por valores e estigmas que, muitas vezes de forma inconsciente,
guiam suas escolhas. Ele acredita estar apenas buscando alguém “adequado” à
empresa, mas suas decisões são moldadas por um imaginário racial que associa
competência, confiabilidade e liderança a perfis brancos. A exclusão do rapaz
não resulta de um ódio declarado, mas de uma cadeia de ações sociais
atravessadas por um sistema racializado. Assim, esta narrativa mostra como o
racismo não precisa ser explícito para ser real e poderoso — ele vive nas
estruturas e nos sentidos atribuídos às ações cotidianas.
Bruno Issamu
Ishioka – Noturno.
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