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sábado, 17 de maio de 2025

 Racismo estrutural.

Em uma grande cidade brasileira, um rapaz, um jovem negro, formado em engenharia, decide se candidatar a uma vaga em uma prestigiada empresa de tecnologia. Desde pequeno, sempre ouvira de sua mãe que precisava se esforçar "duas vezes mais" para alcançar o que os outros conseguiam com metade do trabalho. Com um currículo exemplar, fluência em três idiomas e experiência internacional, o rapaz chega confiante à entrevista.

Do outro lado da mesa, o recrutador o recebe com um sorriso cordial, mas hesitante. Durante a conversa, faz perguntas sutis sobre “adaptação a ambientes corporativos formais” e comenta que o perfil dele seria “melhor aproveitado em setores mais dinâmicos e criativos”. Dias depois, o rapaz recebe a resposta: não foi selecionado. A vaga foi preenchida por um candidato com menos experiência e formação, mas com “perfil mais alinhado à cultura da empresa”.

Essa situação, embora pareça individual, é um reflexo do que Silvio Almeida chama de racismo estrutural. A ação do recrutador — segundo a teoria de Max Weber — é uma ação social orientada por valores e estigmas que, muitas vezes de forma inconsciente, guiam suas escolhas. Ele acredita estar apenas buscando alguém “adequado” à empresa, mas suas decisões são moldadas por um imaginário racial que associa competência, confiabilidade e liderança a perfis brancos. A exclusão do rapaz não resulta de um ódio declarado, mas de uma cadeia de ações sociais atravessadas por um sistema racializado. Assim, esta narrativa mostra como o racismo não precisa ser explícito para ser real e poderoso — ele vive nas estruturas e nos sentidos atribuídos às ações cotidianas.

 

Bruno Issamu Ishioka – Noturno.

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