O mundo está fora de ordem ou a ordem está fora do mundo?
No livro A Cidade de Deus, Santo Agostinho faz uma distinção entre a ordem terrena (imperfeita) e a ordem divina (perfeita); para ele, a verdadeira ordem provém de Deus. Entretanto, ao observarmos as atividades humanas, vemos apenas a imperfeição, o caos e a destruição instaurados no mundo. Diante disso, para compreendermos a ordem em nosso contexto mundial, é necessário analisar a história da humanidade e os objetivos por trás da tecnologia.
Nesse viés, cabe refletir sobre o percurso histórico da humanidade e suas intenções para entender a aparente falta de ordem no mundo contemporâneo. Segundo C. Wright Mills, devemos considerar como nossas vidas estão conectadas ao contexto histórico e social para compreender o que estamos vivenciando. O mundo sempre esteve em guerra: desde a Antiguidade, com egípcios, gregos e persas, até os dias atuais, com os conflitos na Ucrânia e na Palestina. Governos e governantes, ao longo dos séculos, almejaram poder, riquezas, honra e glória para seus reinos e para si próprios, mesmo que isso custasse a destruição de culturas, povos e etnias. Nota-se, assim, a permanência dessas práticas e pensamentos nos governos atuais e a angústia que paira sobre os povos e nações envolvidos, levando-nos a questionar: até quando viveremos assim? Portanto, para que o sofrimento e as guerras cessem, é necessário que a transformação comece dentro de cada indivíduo. Não podemos esperar que os outros ajam primeiro, mas sim tomar atitudes firmes e conscientes por nós mesmos.
Além disso, o uso da tecnologia com intenções maléficas é outro fator que contribui para a desordem mundial e a perpetuação do caos. Sob essa ótica, a tecnologia tem desempenhado um papel fundamental na intensificação das guerras, aumentando a letalidade e facilitando o acesso de grupos não estatais, como terroristas e milícias, a armamentos poderosos. Com líderes soberanos focados apenas no poder político e econômico, somados ao domínio bélico de países e grupos rebeldes, vemos o cenário global mergulhar novamente na desordem e em conflitos potencialmente catastróficos. O filósofo Kant chegou a propor um “direito cosmopolita” para evitar guerras, mas a realidade permanece marcada por disputas de poder e pela falta de sensibilidade em relação ao próximo.
Depreende-se, portanto, a urgência de combater a falta de empatia e sensibilidade pelo outro. Em 2 Timóteo 3:1-3, lemos:
"Saiba disto: nos últimos dias sobrevirão tempos terríveis. Os homens serão egoístas, avarentos, presunçosos, arrogantes, blasfemos, desobedientes aos pais, ingratos, ímpios, sem amor pela família, irreconciliáveis, caluniadores, sem domínio próprio, cruéis, inimigos do bem..."
Dessa forma, observa-se que a desordem não é exclusiva da Antiguidade, mas também se manifesta, de maneira intensa, nos tempos atuais, como comprovam os inúmeros conflitos que presenciamos em nossa realidade contemporânea. A ordem no mundo não depende apenas de sistemas políticos ou avanços tecnológicos, mas do despertar de uma consciência coletiva e espiritual que valorize a dignidade humana, o amor ao próximo e a construção da paz como um ideal possível e urgente.
Felipe Kinzo Massuda Nascimento - 1° ano direito (matutino)
Olá, Felipe. Tenho para mim que a percepção da ordem, ou de algumas ordens, a partir do indivíduo e suas decisões pode ser um caminho melhor para a humanidade. E você pontua muito bem quando declara que aquilo que temos como novo ou exclusivo de nossos tempos parece não ser algo tão novo assim, de sorte que temos, poderia dizer, uma cadência, ou uma constante, naquilo que historicamente parece ruim (brigas e guerras, disputas pelo poder etc.). Um abraço, Alexandre.
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