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quarta-feira, 2 de abril de 2025

Um mundo fora de ordem ou uma ordem fora do mundo? - Texto Palestra "Estamos no fim do mundo?"

O “Humanitismo”, filosofia desenvolvida por Machado de Assis no livro "Quincas Borba", possui como máxima: “Ao vencedor, as batatas. Ao perdedor, o ódio ou a compaixão”. Tal princípio, além de exemplificar a obra, é uma dura crítica do autor à organização social que se perpetua até hoje: a instauração de uma competição constante entre os indivíduos, na qual os perdedores são excluídos e subjugados e os vencedores, como forma de realçar sua vitória, ganham prêmios como forma de se vangloriarem. É possível observar que tal premissa perfura o âmbito ficcional e se aplica também a realidade, uma vez que possuímos um mundo completamente desigual, vivendo uma disputa acirrada a todo tempo, permeado de desigualdade e caos. Todas essas características são advindas do sistema socioeconômico vigente: o capitalismo.

Com a sua consolidação no século XVIII, a partir Revolução Industrial, esse modo de gerir o mundo causou diversos problemas, calcificando a desigualdade social, os desastres naturais, as péssimas condições de trabalho, crises políticas e territoriais. Contudo, na contemporaneidade tais problemas se agravaram e, como uma forma de não mostrar as fragilidades desse sistema regido pelo capital, os indivíduos compram a ideia vendida de que o mundo está acabando e não há nada a ser feito.

Na política internacional, observamos a ascensão frequente da extrema direita em diversas potências mundiais. Nos Estados Unidos, o atual presidente Donald Trump ameaça constantemente os estudantes e as universidade, instaurando o desespero ao emitir a ordens de deportação de estudantes estrangeiros que não concordem com sua ideologia, como foi o caso de uma estudante turca, a qual foi abordada por homens mascarados e levada presa por ter defendido a Palestina em uma manifestação. Além disso, o presidente emitiu a proibição de quase 200 palavras, censurou trabalhos acadêmicos e fechou o Departamento de Educação com a justificativa de corte de gastos. Tais atos criam um ambiente angustiante não só nacional, mas mundial, e de muitas incertezas para que os indivíduos, que já sentem-se desesperançosos, acreditem que, de fato, o fim do mundo está próximo.

Ademais, segundo um estudo realizado na Alemanha e publicado na revista "Nature Climate Change", há a comprovação que o aumento de 1,6° do planeta pode ser um sinal de um mundo permanentemente mais quente e com a presença de diversos desastres climáticos, como enchentes, aumento da seca, tempestades mais fortes e frequentes, furacões, tornados dentre outras adversidades climáticas. Contudo, os cientistas afirmam que “se a humanidade agir rápido e reduzir drasticamente suas emissões, é possível manter o aquecimento de fato em 1,5°C ou pelo menos limitá-lo a 2°C”. Logo, nem tudo está perdido e o mundo pode "não acabar" se as medidas corretas forem tomadas.

Fato é que o capitalismo, como um modelo de gerir a economia e a sociedade, fracassou e devemos urgentemente lutar contra a falácia que o mundo está acabando, já que essa é a maneira mais fácil de alienar uma população desigual e sucumbida à pobreza extrema. Sendo assim, é nosso dever dar o passo inicial para o fim da competição e da espetacularização dos indivíduos – tanto dos vencedores que levaram as batatas, quanto dos perdedores que receberam o ódio – porque, no final, todos nós estamos juntos usando da esperança, da política, da sociologia e da educação pública como armas para promover o fim de um mundo baseado na competição e o surgimento de um mundo melhor.

"Para mim, é impossível existir sem sonho. A vida na sua totalidade me ensinou como grande lição que é impossível assumi-la sem risco" - Paulo Freire


Geovana Martins de Mori - 1° Ano - Direito Matutino

Um comentário:

  1. Olá, Geovana. Será que a ordem, e a desordem, no mundo ou fora dele, não seja algo mais relacionado ao ser humano e suas escolhas, individuais e sociais, e menos uma questão de regimes econômicos ou ideologias? Eu não consigo enxergar extremistas em um lado ou canto do mundo apenas. Vejo-os em todos os lugares, inclusive nos meios onde não há competição. É uma reflexão apenas porque não tenho respostas acabadas. Com respeito, Alexandre.

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