O “Humanitismo”, filosofia desenvolvida por Machado de Assis no livro "Quincas Borba", possui como máxima: “Ao vencedor, as batatas. Ao perdedor, o ódio ou a compaixão”. Tal princípio, além de exemplificar a obra, é uma dura crítica do autor à organização social que se perpetua até hoje: a instauração de uma competição constante entre os indivíduos, na qual os perdedores são excluídos e subjugados e os vencedores, como forma de realçar sua vitória, ganham prêmios como forma de se vangloriarem. É possível observar que tal premissa perfura o âmbito ficcional e se aplica também a realidade, uma vez que possuímos um mundo completamente desigual, vivendo uma disputa acirrada a todo tempo, permeado de desigualdade e caos. Todas essas características são advindas do sistema socioeconômico vigente: o capitalismo.
Com a sua consolidação no século XVIII, a partir Revolução
Industrial, esse modo de gerir o mundo causou diversos problemas, calcificando
a desigualdade social, os desastres naturais, as péssimas condições de trabalho,
crises políticas e territoriais. Contudo, na contemporaneidade tais problemas
se agravaram e, como uma forma de não mostrar as fragilidades desse sistema
regido pelo capital, os indivíduos compram a ideia vendida de que o mundo está
acabando e não há nada a ser feito.
Na política internacional, observamos a ascensão frequente da
extrema direita em diversas potências mundiais. Nos Estados Unidos, o atual
presidente Donald Trump ameaça constantemente os estudantes e as universidade,
instaurando o desespero ao emitir a ordens de deportação de estudantes
estrangeiros que não concordem com sua ideologia, como foi o caso de uma
estudante turca, a qual foi abordada por homens mascarados e levada presa por
ter defendido a Palestina em uma manifestação. Além disso, o presidente emitiu
a proibição de quase 200 palavras, censurou trabalhos acadêmicos e fechou o
Departamento de Educação com a justificativa de corte de gastos. Tais atos criam
um ambiente angustiante não só nacional, mas mundial, e de muitas incertezas
para que os indivíduos, que já sentem-se desesperançosos, acreditem que, de
fato, o fim do mundo está próximo.
Ademais, segundo um estudo realizado na Alemanha e publicado
na revista "Nature Climate Change", há a comprovação que o aumento de 1,6°
do planeta pode ser um sinal de um mundo permanentemente mais quente e com a
presença de diversos desastres climáticos, como enchentes, aumento da seca,
tempestades mais fortes e frequentes, furacões, tornados dentre outras
adversidades climáticas. Contudo, os cientistas afirmam que “se a humanidade
agir rápido e reduzir drasticamente suas emissões, é possível manter o
aquecimento de fato em 1,5°C ou pelo menos limitá-lo a 2°C”. Logo, nem tudo
está perdido e o mundo pode "não acabar" se as medidas corretas forem tomadas.
Fato é que o capitalismo, como um modelo de gerir a economia
e a sociedade, fracassou e devemos urgentemente lutar contra a falácia que o
mundo está acabando, já que essa é a maneira mais fácil de alienar uma
população desigual e sucumbida à pobreza extrema. Sendo assim, é nosso dever dar
o passo inicial para o fim da competição e da espetacularização dos indivíduos –
tanto dos vencedores que levaram as batatas, quanto dos perdedores que
receberam o ódio – porque, no final, todos nós estamos juntos usando da esperança,
da política, da sociologia e da educação pública como armas para promover o fim
de um mundo baseado na competição e o surgimento de um mundo melhor.
"Para mim, é impossível existir sem sonho. A vida na sua totalidade me ensinou como grande lição que é impossível assumi-la sem risco" - Paulo Freire
Geovana Martins de Mori - 1° Ano - Direito Matutino
Olá, Geovana. Será que a ordem, e a desordem, no mundo ou fora dele, não seja algo mais relacionado ao ser humano e suas escolhas, individuais e sociais, e menos uma questão de regimes econômicos ou ideologias? Eu não consigo enxergar extremistas em um lado ou canto do mundo apenas. Vejo-os em todos os lugares, inclusive nos meios onde não há competição. É uma reflexão apenas porque não tenho respostas acabadas. Com respeito, Alexandre.
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