O início do século XX foi marcado pela popularização de ideias eugenistas, que pregavam o "aperfeiçoamento" da humanidade por meio do controle da reprodução, sendo usadas posteriormente para justificar a superioridade de grupos étnicos em detrimento de outros, e pela utilização dessas ideias por movimentos autoritários para alcançar o poder, especialmente na Alemanha. Nesse sentido, apesar dos esforços para o desaparecimento dessas ideologias, por meio de leis que proíbem sua disseminação e da repressão contra células nazifascistas, cada vez mais há notícias sobre o crescimento alarmante desses ideais na sociedade atual. Nesse contexto, a importância do pensamento sociológico se torna cada vez mais aparente, pois, como foi proposto por Charles Wright Mills, “tudo aquilo que os homens comuns têm consciência direta e tudo o que tentam fazer está limitado pelas órbitas privadas em que vivem”, o que favorece a difusão de ideias extremistas. Ou seja, além da repressão legal, o pensamento crítico é um complemento necessário.
Antes da Segunda Guerra Mundial, na Alemanha, uma grave crise
econômica e política se espalhou entre o povo, culminando na ascensão do
governo nazista. Isso se deve principalmente ao sentimento de humilhação gerado
pelo Tratado de Versalhes, à hiperinflação da década de 1920, que provocou uma
onda de desemprego, e à instabilidade política da República de Weimar, marcada
por grande polarização, violência entre grupos parlamentares e trocas
constantes de governo. Esses fatores geraram desconfiança na democracia e
desamparo entre a população, criando um terreno fértil para o totalitarismo se
estabelecer. Os nazistas ascenderam ao poder culpando judeus, comunistas e
tratados internacionais, algo aceito por uma população desamparada, imersa em
incertezas e crises em suas órbitas privadas, estes problemas poderiam ter sido
evitados caso o pensamento sociológico fosse disseminado, pois, a partir dele,
as pessoas perceberiam que esses problemas individuais são, na verdade,
questões estruturais complexas e não podem ser solucionados com respostas
simples, como culpar minorias.
Na atualidade, observamos um crescimento alarmante de movimentos
da direita radical na esfera política global. Isso é evidente nos EUA, com Elon
Musk e Steve Bannon realizando gestos muito semelhantes à saudação nazista em
eventos políticos, e no Brasil, com o ex-presidente Jair Bolsonaro afirmando em
2022 que as minorias “têm que se adequar”. Nesse contexto, fica evidente que,
na realidade globalizada contemporânea, marcada por inquietações derivadas do
medo da automação do trabalho pela inteligência artificial, das crises
econômicas e ambientais, do grande volume de notícias negativas e,
principalmente, da desinformação que se espalha rapidamente, as ideologias de
extrema-direita encontram um terreno fértil para proliferar. Agora, seus novos
principais inimigos são os imigrantes, como exemplificado pela política de
deportação de Trump e pelas declarações da deputada portuguesa Rita Matias, que
chamou imigrantes de “ratos”. Assim, o pensamento sociológico se torna ainda
mais necessário para evitar que o povo seja seduzido por essas acusações e
soluções simplistas de extremistas.
Portanto, considerando a forma de operação dos nazifascistas, que
aproveitam momentos de instabilidade para obter poder por meio da alienação de
pessoas fragilizadas, a imaginação sociológica proposta por Mills assume um
papel de suma importância para a construção de sociedades mais críticas e resilientes.
Isso ocorre porque, ao adotá-la, os indivíduos entenderão que suas dificuldades
pessoais são, na verdade, coletivas e complexas, demandando ação conjunta em
busca de uma verdadeira solução, sem cair em discursos extremistas e
identificando as causas dos problemas sociais. Dessa forma, evitam-se os erros
do passado, por meio do pensamento crítico.
Rafael Constâncio Cuvice - Direito noturno 1º ano
Nenhum comentário:
Postar um comentário