Total de visualizações de página (desde out/2009)

3135173

sábado, 22 de março de 2025

A imaginação sociológica em tempos de extremismo

O início do século XX foi marcado pela popularização de ideias eugenistas, que pregavam o "aperfeiçoamento" da humanidade por meio do controle da reprodução, sendo usadas posteriormente para justificar a superioridade de grupos étnicos em detrimento de outros, e pela utilização dessas ideias por movimentos autoritários para alcançar o poder, especialmente na Alemanha. Nesse sentido, apesar dos esforços para o desaparecimento dessas ideologias, por meio de leis que proíbem sua disseminação e da repressão contra células nazifascistas, cada vez mais há notícias sobre o crescimento alarmante desses ideais na sociedade atual. Nesse contexto, a importância do pensamento sociológico se torna cada vez mais aparente, pois, como foi proposto por Charles Wright Mills, “tudo aquilo que os homens comuns têm consciência direta e tudo o que tentam fazer está limitado pelas órbitas privadas em que vivem”, o que favorece a difusão de ideias extremistas. Ou seja, além da repressão legal, o pensamento crítico é um complemento necessário.

Antes da Segunda Guerra Mundial, na Alemanha, uma grave crise econômica e política se espalhou entre o povo, culminando na ascensão do governo nazista. Isso se deve principalmente ao sentimento de humilhação gerado pelo Tratado de Versalhes, à hiperinflação da década de 1920, que provocou uma onda de desemprego, e à instabilidade política da República de Weimar, marcada por grande polarização, violência entre grupos parlamentares e trocas constantes de governo. Esses fatores geraram desconfiança na democracia e desamparo entre a população, criando um terreno fértil para o totalitarismo se estabelecer. Os nazistas ascenderam ao poder culpando judeus, comunistas e tratados internacionais, algo aceito por uma população desamparada, imersa em incertezas e crises em suas órbitas privadas, estes problemas poderiam ter sido evitados caso o pensamento sociológico fosse disseminado, pois, a partir dele, as pessoas perceberiam que esses problemas individuais são, na verdade, questões estruturais complexas e não podem ser solucionados com respostas simples, como culpar minorias.

Na atualidade, observamos um crescimento alarmante de movimentos da direita radical na esfera política global. Isso é evidente nos EUA, com Elon Musk e Steve Bannon realizando gestos muito semelhantes à saudação nazista em eventos políticos, e no Brasil, com o ex-presidente Jair Bolsonaro afirmando em 2022 que as minorias “têm que se adequar”. Nesse contexto, fica evidente que, na realidade globalizada contemporânea, marcada por inquietações derivadas do medo da automação do trabalho pela inteligência artificial, das crises econômicas e ambientais, do grande volume de notícias negativas e, principalmente, da desinformação que se espalha rapidamente, as ideologias de extrema-direita encontram um terreno fértil para proliferar. Agora, seus novos principais inimigos são os imigrantes, como exemplificado pela política de deportação de Trump e pelas declarações da deputada portuguesa Rita Matias, que chamou imigrantes de “ratos”. Assim, o pensamento sociológico se torna ainda mais necessário para evitar que o povo seja seduzido por essas acusações e soluções simplistas de extremistas.

Portanto, considerando a forma de operação dos nazifascistas, que aproveitam momentos de instabilidade para obter poder por meio da alienação de pessoas fragilizadas, a imaginação sociológica proposta por Mills assume um papel de suma importância para a construção de sociedades mais críticas e resilientes. Isso ocorre porque, ao adotá-la, os indivíduos entenderão que suas dificuldades pessoais são, na verdade, coletivas e complexas, demandando ação conjunta em busca de uma verdadeira solução, sem cair em discursos extremistas e identificando as causas dos problemas sociais. Dessa forma, evitam-se os erros do passado, por meio do pensamento crítico.


Rafael Constâncio Cuvice - Direito noturno 1º ano

Nenhum comentário:

Postar um comentário