Os direitos da comunidade LGBTQIA+ parecem estar em maior vigor nos tempos atuais. Entretanto, isso se mostra como uma falácia ao se analisar a sua realidade de sobrevivência, porque é isso, eles sobrevivem para viver.
No documentário “Paris is burning”, ambientado no final dos anos 80 e em Nova York, é mostrado a maneira que homens gays e pessoas transsexuais, em sua maioria pessoas pretas, encontraram para se expressar e conseguir sobreviver: através dos chamados bailes. Com reuniões diárias e diversos tipos de categorias, eles expressavam sua criatividade e arte, algo que não poderiam fazer à luz da sociedade branca heterossexual americana, já que isso poderia comprometer sua segurança e suas vidas. Inclusive, uma dessas categorias era chamada de “realness”, em que os participantes teriam que se vestir e agir de maneira que não fosse possível identificar que eles não eram heterossexuais, algo dito pelos organizadores do evento como algo que qualquer pessoa queer deveria ter o dom de realizar. Muitos dos indivíduos que frequentavam esses bailes foram expulsos de suas casas e famílias por serem quem eles são e não possuíam um lar ou qualquer garantia de alimentação ou conforto, tendo o evento como a única coisa que os permitisse verdadeiramente desfrutar deles mesmos.
A perseguição e a insegurança da existência desse grupo persiste até hoje, mesmo depois da conquista de alguns direitos através de muita luta. Um exemplo muito claro é a nova política “anti woke” estadunidense, em que documentações de pessoas trans foram alteradas para mostrar seu sexo biológico, como foi o caso da atriz Hunter Schafer, que gravou um vídeo com indignação e medo ao seu passaporte ser alterado pelo governo americano. Além disso ser uma violação direta e grave contra esse grupo, esse ato os expõe a uma maior chance de ataques e uma onda de terror. No Brasil, o número de assassinatos do público LGBTQIA+ é um dos maiores do mundo, fato que confirma a brutalidade da homofobia atualmente, mesmo com mudanças de comportamento em relação ao passado.
Em tempos como esse, possuir o que Wright Mills chama de imaginação sociológica é essencial para compreender a realidade e fomentar a empatia nas pessoas. Essa prática ajuda os indivíduos a entender todo o cenário histórico e o que vive de maneira mais ampla, enxergando como aquilo pode afetar a sua vida pessoal e a do próximo.
Dessa forma, quem sabe seja possível que todas as pessoas consigam realizar o direito de existir e viver, e não somente sobreviver em meio a tantas violências.
Giovanna Garboci Siqueira dos Santos (primeiro ano Direito noturno)
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