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terça-feira, 18 de março de 2025

Imaginação Sociológica e o retorno do Autoritarismo na sociedade contemporânea

    A imaginação sociológica, conceito elaborado por C. Wright Mills, corresponde à uma ferramenta essencial no que tange a análise e compreensão acerca das interconexões entre o indivíduo e o meio em que vive - sociedade. Sob essa ótica, a identificação de que questões individuais podem (e são) reflexos de conjunturas estruturais, a imaginação sociológica nos propõe a ampliar nossa capacidade de análise, compreendendo  as escolhas pessoais bem como a influência de aspectos coletivos nesta. Assim, corresponde não só a uma prática intelectual e filosófica, como nos instiga a refletir criticamente acerca da sociedade contemporânea em que estamos inseridos.

    A prerrogativa do pensamento sociológico, segundo Mills, nos exige a compreensão de que problemas e perturbações pessoais, como o desemprego, encontram-se intimamente ligados, por profundas raízes históricas, à questões de caráter público. Essa abordagem rompe com nossa visão deturpada e fragmentada de realidade ao nos posicionar enquanto parte de um todo, mas que também se altera ou se transforma devido ao mesmo. Assim, tal imaginação também se encarrega de questionar as hierarquias e relações de poder que moldam a atual sociedade, bem como as narrativas excludentes e opressoras que, compreendendo a história enquanto processo cíclico, tendem a surgir e serem mitigadas ao longo do tempo. É nessa prerrogativa que, na contemporaneidade, observamos a importância da imaginação sociológica e os impactos negativos que a ausência desta promovem: a crescente onda de ideais fascistas circulando no atual cenário global.

    Deste modo, nota-se a imaginação sociológica como uma lente vital para analisar tal fenômeno no Brasil e no mundo como sendo, indubitavelmente, resultado de processos históricos e estruturais que influenciaram e ainda influenciam no comportamento e opiniões coletivas. A expansão de discursos autoritários, ultra nacionalistas, carregados de ufanismo e, sobretudo, excludentes encontram-se relacionados diretamente à um legado que, evidentemente, não se encerrou com a redenção alemã aos Aliados ou alteração do cenário político italiano em 1947. A realidade é que tais pensamentos nunca foram diretamente confrontados, e o arranque do caule nazi-fascista não trouxe consigo suas raízes, que, em uma terra fértil e adubada pelo incentivo à desinformação e alienação, rapidamente florescem nas épocas certas.


    Discursos que apelam para o medo e a nostalgia de um passado idealizado tornam-se mais influentes em tempos de instabilidade política e econômica. Assim, o que, a princípio, se tratam de percepções individuais - como a crença em regimes autoritários e a adoção de práticas discriminatórias - correspondem, na realidade, à mazelas estruturais da sociedade que favorecem a exclusão de grupos minoritários bem como a disseminação de discursos de ódio contra tais. Assim, a imaginação sociológica atua, neste contexto, enquanto uma abordagem crítica para compreensão das raízes desses processos, contribuindo para que se possa identificar os caminhos para o enfrentamento deste entrave, mediante fortalecimento das estruturas democráticas e incentivo ao pensamento crítico, focando na resolução estrutural do problema.



Pedro Augusto da Costa Leme - 1° ano - Direito - Matutino

Um comentário:

  1. Olá, Pedro. Sua postagem me instigou a pensar em muitas coisas. Vou relatar apenas algumas. Penso, neste momento, sobre o nosso movimento, comum e baseado naquilo que nos assolou como humanidade no passado, em catalogar as coisas fazendo comparações. Refiro-me às associações daquilo que acontece hoje com as experiências que você relatou (nazismo, fascismo etc.). Não posso afirmar nada de modo categórico, mas o só fato de estarmos em outra época dá outros contornos aos movimentos, descolando-os daquilo que houve no passado. Não digo que aprecio o autoritarismo moderno. Aliás, acho-o até mais pernicioso. Digo apenas que as coisas ruins de hoje podem não ser as insanidades de ontem. Vamos refletir juntos. Abraços, Alliprandino.

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