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sexta-feira, 23 de maio de 2025

O diálogo entre as autoridades e o racismo estrutural

Max Weber, sociólogo e jurista alemão, ao discutir os fundamentos da dominação, afirma que toda autoridade se sustenta na crença de que é legítima. A partir dessa ideia, surge a pergunta: que tipo de autoridade mantém as estruturas sociais no Brasil?

Sob esse viés, a obra “Racismo estrutural” do jurista e filósofo Silvio Almeida, oferece uma resposta inquietante, porém necessária. Segundo o autor, o racismo não é um desvio de conduta ou uma exceção no funcionamento da sociedade; ao contrário, ele é uma peça fundamental na engrenagem da organização política e econômica do país. Logo, para compreender a autoridade no Brasil, é imprescindível analisar o papel do racismo como base silenciosa e persistente dessa dominação.

Nesse sentido, a autoridade tradicional, apresentada por Weber, revela-se com clareza na forma como o racismo atua. Essa forma de dominação se sustenta na força do costume, naquilo que é repetido e naturalizado ao longo do tempo. No caso do Brasil, o passado colonial e escravocrata deixou marcas profundas que, ainda hoje, são reproduzidas nas relações interpessoais. Um claro exemplo disso está presente na ideia de que certas posições sociais são “lugar de branco”, enquanto os negros ocupam, quase sempre, os espaços de subalternidade, seja na mídia, na política ou no sistema de justiça. Assim, o racismo, ao se perpetuar sob a aparência de normalidade, torna-se uma forma de autoridade enraizada na tradição.

Ademais, Silvio Almeida também denuncia o racismo presente nas instituições formais, o que nos remete a outro tipo de autoridade weberiana: a autoridade racional-legal. Essa forma de dominação se apoia em normas impessoais e burocracias que, teoricamente, funcionam de maneira neutra e objetiva. No entanto, a realidade mostra que essa neutralidade é uma ilusão. Muitas leis, por mais técnicas que pareçam, carregam viés racial, especialmente quando aplicadas por agentes que reproduzem discriminações históricas. Um exemplo evidente está na forma como o sistema penal trata o porte de drogas: enquanto jovens brancos costumam ser enquadrados como usuários, jovens negros são, frequentemente, acusados de tráfico, ainda que estejam em situações semelhantes. Isso revela que o racismo opera silenciosamente por dentro da autoridade legal, criando uma aparência de imparcialidade que, na prática, legitima desigualdades.

Em suma, é possível concluir que o racismo, como explica Silvio Almeida, não é apenas um problema moral ou jurídico, mas sim um mecanismo de dominação legitimado pela sociedade. Ele se infiltra nas formas de autoridade que Weber descreveu, moldando tanto a tradição quanto a legalidade, e mantendo estabilizada a engrenagem sistêmica.


João Marcos Borges Silva -  1º ano - Direito (noturno)

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