A digital influencer Raquel Nazareth posta, em suas redes sociais, seu cotidiano. Compras, maquiagens, rotina de cuidados com a pele e passeios no Villlage Mall, seu lugar preferido. Entretanto, Raquel recebeu notória atenção dos expectores devido a outro motivo; como ela se tornou rica? Convenhamos que esse questionamento foge do conteúdo que a digital influencer publica, além de tal pergunta não ser feita as demais influencers da mesma rede social que Raquel. A única diferença entre Raquel, que vive sendo questionada sobre suas condições financeiras, das demais blogueiras é: Raquel Nazareth é uma mulher negra. Nessa perspectiva, e de acordo com a escritora Grada Kilomba, persiste, na sociedade contemporânea, o questionamento do branco sobre a ascensão social dos negros, evidenciado pelo pensamento de incapacidade que eles têm em relação as pessoas negras e pela negação da alteridade.
Diante desse cenário, se torna válido ressaltar
o equivocado pensamento de que pessoas negras são incapazes intelectualmente.
Por exemplo, em sua vida acadêmica, a escritora revela que foi barrada de
frequentar a biblioteca de sua universidade pois, diferentemente dos outros
estudantes brancos, Grada não parecia pertencer àquele lugar. Além disso, os
trabalhos acadêmicos dela sobre o racismo cotidiano eram vistos como algo
subjetivo, pessoal, imparcial, mas nunca científico. Grada Kilomba até mesmo
cita que “elas/eles têm fatos/nós, opiniões”. Logo, a capacidade intelectual da
escritora esteve sempre em observação e em julgamento, apenas por ela ser uma
mulher negra.
Ademais, desde a colonização, perpetua a ideia
de superioridade dos que estão no poder. Os demais grupos sociais, sem ser o do
homem branco europeu, eram considerados “menos humanos”, somente por causa de
serem diferentes. Nesse sentido, ao terem sua alteridade negada, esses grupos
foram colocados em uma posição vulnerável e expostos a todo tipo de violência.
Infelizmente, é percebível que, atualmente, essa falsa superioridade de
determinado grupo social continua existindo, demonstrando que o poder está
concentrado nas mãos deles. Para salientar esse argumento e comprová-lo,
retomamos o que foi dito anteriormente, uma vez que, por não fazer parte do grupo
social que acumula a maior parte do poder da sociedade, uma mulher negra rica é
um acontecimento atípico para essa sociedade, recebendo questionamentos sobre a origem de
seu dinheiro.
Conclui-se, portanto, que, assim como a mesma classe social persiste sendo a representação do poder na sociedade, a ideia de superioridade perpetua até os dias atuais, fazendo com que as capacidades e a ascensão social de grupos minoritários sejam encaradas como incomuns. Dessa forma, esse preconceito infundado, passado de geração para geração, é exposto no comportamento diário dos indivíduos na sociedade, permitindo que essa violência ainda aconteça.
Maria Clara da Silva Cruz, 1º ano Direito Matutino
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