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terça-feira, 2 de maio de 2023

Autoculpabilização e o materialismo histórico dialético: um horizonte de superação

Em sua obra "A corrosão do caráter", Richard Sennet, no primeiro capítulo, "À deriva", centraliza a discussão na análise, de forma comparativa, de duas gerações de indivíduos: Enrico e Rico, pai e filho, respectivamente. O cerne da questão abordada pelo autor é a mudança substancial da forma de vida que a dinâmica social-econômica impôs a cada um deles, enquanto Enrico estava posto em uma lógica de emprego formal, estável e previsível, Rico, por sua vez, enfrentava o aceleramento das relações sociais, a imprevisibilidade e o “assumir riscos” como máxima empregatícia.

            De maneira expansiva, Enrico e Rico são representações simbólicas de uma mudança de dinâmica não restrita à família deles, mas a grande maioria da população posta no sistema político-econômico capitalista. Nesse sentido, a análise da problemática exposta por Sennet deve passar por um método científico que leve em consideração todas essas contradições concretas da sociedade, isto é, o conflito interno de Rico, em relação a sua dinâmica familiar e profissional, não deve ser entendido como inerente a ele.

            Por essa lógica, o materialismo histórico-dialético, proposto por Karl Marx e Friedrich Engels, e desenvolvido na obra “Ideologia Alemã”, assume importante papel na desconstrução da autoculpabilização comum ao sujeito contemporâneo, condição expressa nas falas de Rico à Sennet. O entendimento de que o indivíduo está inserido em uma sociedade, e que esta, o condiciona, permite a elaboração da noção de que os conflitos individuais pouco possuem individualidade, uma vez que as condições materiais da sociedade permeiam o sujeito incessantemente.

            Em suma, o conflito existente em Rico, e todos nós, pouco poderia ser explicado a partir de métodos indutivos, dedutivos etc. Nesse sentido, para ciências humanas, o método histórico-dialético assume condição importantíssima na elaboração científica e sistemática para explicação aprofundada de determinadas questões, como a de Rico, exposta por Sennet. É na materialidade, que para Marx acontecem os conflitos e também é nela em que ocorre a superação deles de maneira coletiva. 


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