Em sua obra "A corrosão do caráter", Richard Sennet, no primeiro
capítulo, "À deriva", centraliza a discussão na análise, de forma
comparativa, de duas gerações de indivíduos: Enrico e Rico, pai e filho,
respectivamente. O cerne da questão abordada pelo autor é a mudança substancial
da forma de vida que a dinâmica social-econômica impôs a cada um deles,
enquanto Enrico estava posto em uma lógica de emprego formal, estável e
previsível, Rico, por sua vez, enfrentava o aceleramento das relações sociais,
a imprevisibilidade e o “assumir riscos” como máxima empregatícia.
De maneira expansiva,
Enrico e Rico são representações simbólicas de uma mudança de dinâmica não
restrita à família deles, mas a grande maioria da população posta no sistema político-econômico
capitalista. Nesse sentido, a análise da problemática exposta por Sennet deve
passar por um método científico que leve em consideração todas essas
contradições concretas da sociedade, isto é, o conflito interno de Rico, em
relação a sua dinâmica familiar e profissional, não deve ser entendido como
inerente a ele.
Por essa lógica, o
materialismo histórico-dialético, proposto por Karl Marx e Friedrich Engels, e
desenvolvido na obra “Ideologia Alemã”, assume importante papel na
desconstrução da autoculpabilização comum ao sujeito contemporâneo, condição
expressa nas falas de Rico à Sennet. O entendimento de que o indivíduo está
inserido em uma sociedade, e que esta, o condiciona, permite a elaboração da noção
de que os conflitos individuais pouco possuem individualidade, uma vez que as
condições materiais da sociedade permeiam o sujeito incessantemente.
Em suma, o
conflito existente em Rico, e todos nós, pouco poderia ser explicado a partir
de métodos indutivos, dedutivos etc. Nesse sentido, para ciências humanas, o
método histórico-dialético assume condição importantíssima na elaboração científica
e sistemática para explicação aprofundada de determinadas questões, como a de
Rico, exposta por Sennet. É na materialidade, que para Marx acontecem os conflitos e também é nela em que ocorre a superação deles de maneira coletiva.
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