Segundo
o conceito do materialismo histórico-dialético elaborado pelos sociólogos Marx
e Engels, para compreender o mundo em que se vive é necessária uma análise
metódica dos acontecimentos e transformações históricas da sociedade humana, o
que elenca uma amplitude de conceitos, como as forças produtivas, as relações
de trabalho e as condições materiais. Além disso, essa compreensão deve se
orientar por meio da própria realidade e não por meras idealizações de como ela
deve ser.
Nesse
sentido, a realidade, por si só, seria um cenário em permanente movimento, o
que reflete, contemporaneamente, em lutas sociais, como a efetivação da
política de cotas raciais no Brasil. Em um país tão diverso em cultura,
costumes e etnias, o Estado fica encarregado de gerir as políticas públicas que
assegurem direitos e liberdades individuais em meio à crescente desigualdade
social e a problemas que estão sendo perpetrados há muito tempo pelo povo, tal
qual o racismo estrutural, que afeta, inclusive, o âmbito educacional do país.
Verifica-se,
ainda hoje, a disparidade educacional entre brancos e pretos, que leva a um
ramo de oportunidades reduzidos por parte destes e reitera, assim, um sistema
econômico que também privilegia essa classe já favorecida, o que vai de
encontro com o conceito desenvolvido por Marx cujo significado aponta para o
fato de que o ser humano não possui autonomia, vivendo suas relações sociais de
acordo com as relações econômicas. A partir dessa constatação, o Estado
introduziu as cotas raciais para tentar sanar a desigualdade e realizar o que
chamam de reparação histórica, entretanto, o que se verifica na realidade é a
não concretização dessa política.
A
revisão da Lei de Cotas após ter completado dez anos no ano de 2022 incita um
olhar mais crítico em relação à realidade e um entendimento melhor daquilo que
Marx já reiterava em sua teoria: as classes subalternas veem-se como
trabalhadores natos, mas não como parte do sistema educacional. Essa revisão
vem com o questionamento da continuidade da necessidade da lei para a já citada
redução da desigualdade. O que se nota no ano atual é que, apesar da mudança do
perfil das universidades brasileiras, 71,7% dos jovens fora da escola são
negros e apenas 27,3% são brancos segundo dados da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística, o que, por si só, já responde grande parte da questão acima e
reitera a imprescindibilidade da vigência da lei por mais tempo. Outrossim, de
acordo com levantamento da Vagas.com, empresa de soluções tecnológicas de
recrutamento e seleção, menos de 5% dos trabalhadores negros têm cargos de
gerência ou diretoria, ficando majoritariamente com posições operacionais e
técnicas, o que vem como consequência da carência de possibilidades futuristas.
Com base no analisado, a partir do rompimento com tradições idealistas, a análise da sociedade culmina em um grande problema que necessita de atenção: a discrepância na educação de pretos e brancos que, por consequência, influencia na quantidade de oportunidades que estes terão disponíveis para o futuro. Ademais, é notável que mesmo com a criação das cotas, a situação ainda preocupa e é necessário que essa lei perdure por mais tempo ou que sejam criadas outras políticas públicas eficientes a fim de possibilitar uma mudança social, como pregado pelo materialismo histórico-dialético.
Núbia Quaiato Bezerra, noturno
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