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sábado, 18 de junho de 2022

O materialismo histórico-dialético e as cotas

    

    Segundo o conceito do materialismo histórico-dialético elaborado pelos sociólogos Marx e Engels, para compreender o mundo em que se vive é necessária uma análise metódica dos acontecimentos e transformações históricas da sociedade humana, o que elenca uma amplitude de conceitos, como as forças produtivas, as relações de trabalho e as condições materiais. Além disso, essa compreensão deve se orientar por meio da própria realidade e não por meras idealizações de como ela deve ser.

Nesse sentido, a realidade, por si só, seria um cenário em permanente movimento, o que reflete, contemporaneamente, em lutas sociais, como a efetivação da política de cotas raciais no Brasil. Em um país tão diverso em cultura, costumes e etnias, o Estado fica encarregado de gerir as políticas públicas que assegurem direitos e liberdades individuais em meio à crescente desigualdade social e a problemas que estão sendo perpetrados há muito tempo pelo povo, tal qual o racismo estrutural, que afeta, inclusive, o âmbito educacional do país.

Verifica-se, ainda hoje, a disparidade educacional entre brancos e pretos, que leva a um ramo de oportunidades reduzidos por parte destes e reitera, assim, um sistema econômico que também privilegia essa classe já favorecida, o que vai de encontro com o conceito desenvolvido por Marx cujo significado aponta para o fato de que o ser humano não possui autonomia, vivendo suas relações sociais de acordo com as relações econômicas. A partir dessa constatação, o Estado introduziu as cotas raciais para tentar sanar a desigualdade e realizar o que chamam de reparação histórica, entretanto, o que se verifica na realidade é a não concretização dessa política.

A revisão da Lei de Cotas após ter completado dez anos no ano de 2022 incita um olhar mais crítico em relação à realidade e um entendimento melhor daquilo que Marx já reiterava em sua teoria: as classes subalternas veem-se como trabalhadores natos, mas não como parte do sistema educacional. Essa revisão vem com o questionamento da continuidade da necessidade da lei para a já citada redução da desigualdade. O que se nota no ano atual é que, apesar da mudança do perfil das universidades brasileiras, 71,7% dos jovens fora da escola são negros e apenas 27,3% são brancos segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o que, por si só, já responde grande parte da questão acima e reitera a imprescindibilidade da vigência da lei por mais tempo. Outrossim, de acordo com levantamento da Vagas.com, empresa de soluções tecnológicas de recrutamento e seleção, menos de 5% dos trabalhadores negros têm cargos de gerência ou diretoria, ficando majoritariamente com posições operacionais e técnicas, o que vem como consequência da carência de possibilidades futuristas.

Com base no analisado, a partir do rompimento com tradições idealistas, a análise da sociedade culmina em um grande problema que necessita de atenção: a discrepância na educação de pretos e brancos que, por consequência, influencia na quantidade de oportunidades que estes terão disponíveis para o futuro. Ademais, é notável que mesmo com a criação das cotas, a situação ainda preocupa e é necessário que essa lei perdure por mais tempo ou que sejam criadas outras políticas públicas eficientes a fim de possibilitar uma mudança social, como pregado pelo materialismo histórico-dialético.


Núbia Quaiato Bezerra, noturno

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