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terça-feira, 17 de maio de 2022

BLACKMIRROR E DURKHEIM

 A série Inglesa exibida pela plataforma de entretenimento Netflix “BlackMirror” ilustra de modo fictício uma analogia social onde é possível estudar o pensamento sociológico e a corrente teórica do Funcionalismo desenvolvidos pelo sociólogo Émile Durkheim. Na produção cinematográfica os indivíduos e os grupos que estes integram compõem um mecanismo social que deve permanecer em constante harmonia, seguindo as morais e padronizações pré-estabelecida a eles, desenvolvendo o seu papel social integrado aos demais movimentos, além de expor a forma como o indivíduo é subordinado da sociedade em que ele vive, na série sempre distópica. Neste sentido, os grupos que se divergem desta ordem social causando a perturbação na “harmonia” instaurada são lidados como anomalias de modo a serem, de alguma, forma mitigados.

A priori, compreende-se a definição da sociedade para Durkheim como um organismo mecânico que possui todas as suas “partes” autônomas, mas integradas entre si, onde os fatos sociais devem cumprir com o seu papel dentro desta sociedade e os indivíduos que a compõem, em prol da ordem e harmonia, por uma definição de solidariedade, devem abdicar de suas vontades individualistas. Basicamente, estes são os conceitos que fundamentam a teoria do Funcionalismo, onde cada instituição social desenvolve seu papel funcional para que a sociedade siga a ordem e a moral estabelecida e a aplicabilidade desta colabora para a mitigação de anomalias que venham a se manifestar para a deterioração desta ordem.

A posteriori, com estas noções apresentadas, percebe-se as principais críticas evocadas pela série BlackMirror. Em exemplo disto, o primeiro episódio da terceira temporada ilustra a vida dos cidadãos de uma cidade fictícia, onde a vida destas pessoas é condicionada pelas imposições da sociedade e o que é julgado como “aceitável” à moral a partir da avaliação de um aplicativo, como também os cidadãos permanecem vivendo de forma pacata e parcial aos condicionamentos sociais harmônicos. Outro episódio importante é o quinto da primeira temporada, em que uma organização militar é responsável pela eliminação de criaturas mutantes conhecidas como “baratas”, que são tidas como ameaças à sociedade local, mas na verdade são apenas indivíduos normais que não atenderam às necessidades da sociedade imposta. O papel desenvolvido pela organização militar seria o de liquidar estas baratas e o papel das baratas era de instaurar certo “receio” na sociedade quanto ao descumprimento de sua ordem, tudo de forma velada para cumprimento da ordem.

Por fim, a análise destes dois episódios, além da série como um todo, apresenta uma grande problemática dos pensamentos de Durkheim:  A coerção de um indivíduo à sociedade, além da normatização da moral de modo a excluir os grupos sociais que não se adequam. A forma como é dada uma insignificância ao indivíduo perante às instituições sociais. Assim, ainda que o pensamento durkhemiano tenha sido importante para a compreensão da sociedade contemporânea, é preciso enfatizar que a imposição desta logica é ressignificar o ser humano como “coisa” e atribui a ele direito algum de exercer suas vontades, de modo que, assim como observa-se em Blackmirror, a sociedade caminharia para um estado de deterioração do ser humano.

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