A série Inglesa exibida pela plataforma de entretenimento Netflix “BlackMirror” ilustra de modo fictício uma analogia social onde é possível estudar o pensamento sociológico e a corrente teórica do Funcionalismo desenvolvidos pelo sociólogo Émile Durkheim. Na produção cinematográfica os indivíduos e os grupos que estes integram compõem um mecanismo social que deve permanecer em constante harmonia, seguindo as morais e padronizações pré-estabelecida a eles, desenvolvendo o seu papel social integrado aos demais movimentos, além de expor a forma como o indivíduo é subordinado da sociedade em que ele vive, na série sempre distópica. Neste sentido, os grupos que se divergem desta ordem social causando a perturbação na “harmonia” instaurada são lidados como anomalias de modo a serem, de alguma, forma mitigados.
A priori, compreende-se a definição da sociedade para
Durkheim como um organismo mecânico que possui todas as suas “partes” autônomas,
mas integradas entre si, onde os fatos sociais devem cumprir com o seu papel dentro
desta sociedade e os indivíduos que a compõem, em prol da ordem e harmonia, por
uma definição de solidariedade, devem abdicar de suas vontades individualistas.
Basicamente, estes são os conceitos que fundamentam a teoria do Funcionalismo,
onde cada instituição social desenvolve seu papel funcional para que a
sociedade siga a ordem e a moral estabelecida e a aplicabilidade desta colabora
para a mitigação de anomalias que venham a se manifestar para a deterioração
desta ordem.
A posteriori, com estas noções apresentadas, percebe-se as
principais críticas evocadas pela série BlackMirror. Em exemplo disto, o primeiro
episódio da terceira temporada ilustra a vida dos cidadãos de uma cidade fictícia,
onde a vida destas pessoas é condicionada pelas imposições da sociedade e o que
é julgado como “aceitável” à moral a partir da avaliação de um aplicativo, como
também os cidadãos permanecem vivendo de forma pacata e parcial aos condicionamentos
sociais harmônicos. Outro episódio importante é o quinto da primeira temporada,
em que uma organização militar é responsável pela eliminação de criaturas
mutantes conhecidas como “baratas”, que são tidas como ameaças à sociedade local,
mas na verdade são apenas indivíduos normais que não atenderam às necessidades
da sociedade imposta. O papel desenvolvido pela organização militar seria o de
liquidar estas baratas e o papel das baratas era de instaurar certo “receio” na
sociedade quanto ao descumprimento de sua ordem, tudo de forma velada para
cumprimento da ordem.
Por fim, a análise destes dois episódios, além da série como
um todo, apresenta uma grande problemática dos pensamentos de Durkheim: A coerção de um indivíduo à sociedade, além da
normatização da moral de modo a excluir os grupos sociais que não se adequam. A
forma como é dada uma insignificância ao indivíduo perante às instituições sociais.
Assim, ainda que o pensamento durkhemiano tenha sido importante para a
compreensão da sociedade contemporânea, é preciso enfatizar que a imposição desta
logica é ressignificar o ser humano como “coisa” e atribui a ele direito algum
de exercer suas vontades, de modo que, assim como observa-se em Blackmirror, a
sociedade caminharia para um estado de deterioração do ser humano.
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