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quinta-feira, 24 de março de 2022

O cientificismo contemporâneo à luz do pensamento cartesiano

 Cauan Eduardo Elias Schettini

Turma XXXIX – Direito - matutino

O poeta espanhol Antonio Machado disse em sua obra “Proverbios y Cantares”: "La verdad es lo que es, y sigue siendo verdad aunque se piense al revés". Nesse sentido, o pensamento cartesiano, iniciado no século XVII, partiu do pressuposto do “cogito”, isto é, da máxima: “Penso, logo existio”. Dessa maneira, por meio da análise de si mesmo e dúvida radical de todos os objetos externos, Descartes buscou, em primeiro lugar, se desvencilhar de conhecimentos arcaicos que, em sua época, ainda estavam em voga, chamados de esotéricos, como a astrologia e a alquimia. Em segundo lugar, decidiu se afastar do arcabouço teórico grego baseado em uma falsa racionalidade, tendo em vista que se sustentava nos sentidos e não no entendimento propriamente dito, como é o caso de Platão e Aristóteles. Destarte, por meio da razão pura, conceito posteriormente definido pelo filósofo alemão Immanuel Kant, Descartes concluiu que a única verdade conhecida estaria no pensamento. Relacionando com a frase de Machado citada no começo desse texto, a verdade, mesmo que se pense ao contrário, permanece igual. Entretanto, o filósofo francês postulou um conceito que caminha em uma direção tortuosa e diferente daquela de Machado: a verdade, já que não é conhecida pelos sentidos, só pode ser encontrada no pensamento e, consequentemente, a existência daquele que pensa é comprovada.

Com efeito, Descartes dividiu o mundo externo em “res extensae” ou “coisas extensas”, que são desprovidas de qualidades secundárias, como a cor, e “res cogitans”, ou “mente particular”, que é tudo aquilo que não é uma coisa extensa. Essa visão serviu de base para a ciência moderna que, anos depois, se fundamentou em um método de verificação de hipóteses por meio de experimentos. O método científico atual, portanto, está diretamente relacionado a essa visão do filósofo francês que, conforme denominação do físico Wolfgang Smith, se trata de uma “bifurcação cartesiana”, ou seja, uma simplificação do mundo que leva a um reducionismo científico.

Logo, com física contemporânea, depois da descoberta do princípio da incerteza de Riemann e da Mecânica Quântica por Heisenberg, a objetividade do método científico, acreditada com tanto afinco por Descartes ao ponto de desprezar a percepção sensível, se tornou prejudicada. O exemplo do gato de Schrondigger, inclusive, já é uma evidência habitual para sustentar a afirmação anterior.

Portanto, conclui-se que o pensamento de Descartes deu início ao atual mito da objetividade científica materialista, a qual pode também ser chamada de cientificismo contemporâneo. Por consequência, em última análise, a objetividade, que era o alvo do filósofo francês ao criar seu método, paradoxalmente, levou ao efeito inverso: atualmente, na ciência contemporânea, herdeira de Descartes, não há mais objetividade material. 


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