O mundo, como
o conhecemos hoje, é fruto de uma revolução tecnológica iniciada décadas atrás.
Os meios de comunicação atuais, por exemplo, bem como tudo que necessite de
algum tipo conhecimento científico para sua existência, pressupõe uma interação
com o homem e a sociedade, mas até onde essa intersecção é válida para todos e
não somente destinada a uma parcela privilegiada da população? Essa é uma das questões
levantadas no filme “O Ponto de Mutação”, de Bernt Capra, 1990, no qual uma
cientista apresenta a um candidato democrata e seu amigo poeta uma nova visão
sobre os paradigmas do futuro, decorrentes do uso inadequado da ciência como
uma arma para a dita “evolução” do planeta.
Tomando o
pensamento de Descartes quanto à ideia da ciência como elemento voltado para o
bem do homem, surge daí a necessidade de buscar seus fins práticos, por meio da
transformação e dominação da natureza. Esse posicionamento é adotado, muitas
vezes, como justificativa para a exploração desenfreada do meio ambiente, a
qualquer custo. Desse modo, é colocado à margem um ponto fundamental: essa
transformação não pode ser restritiva, deve alcançar toda a humanidade, caso
contrário seria legitimada a exploração dos recursos até as últimas
consequências, o que levaria ao esgotamento de recursos e uma crise socioambiental
sem precedentes. Além disso, esse novo cenário de modificações deve contemplar um
desenvolvido racionalizado, visando não só o presente, mas também o que ficará
de legado (e subsistência) para as próximas gerações.
O filme descreve,
sob a perspectiva da cientista, um ideal de sociedade eco democrática, onde a
justiça social ganha uma plenitude maior do que a que vivenciamos atualmente. A
interação dos indivíduos com o ambiente à sua volta é, ou ao menos deveria ser,
intrínseca a todos os seres vivos. O “ ambiental” não pode ser entendido como
socialista, ele é basicamente vida, uma vez que é essencial à existência dos
seres. Estabelecer uma relação equilibrada entre sociedade-natureza,
individuo-ambiente, faz parte de uma justiça social mais abrangente do que
meramente ambiental, e isso é perceptível quando vemos a preocupação com a sobrevivência
do capitalismo a longo prazo permeando os pensamentos do candidato à
presidência, uma vez que o conhecimento originado desse pensamento vem de um
homem que não é necessariamente socialista.
Fica
evidenciado, na obra cinematográfica, que a sobrevivência humana é ameaçada por
várias ações igualmente humanas, originadas de uma visão de mundo mecanicista e
fragmentada. O único meio capaz de garantir a essa sobrevivência é a capacidade
de mudarmos de forma radical os valores relativos à nossa individualidade e o
modo como nos relacionamos o meio ambiente. Nesse ponto, é primordial que a
sociedade se conscientize do que já refletia o racionalista francês do século
XVII: em última instância, a ciência deve ser utilizada em prol do homem, mas
que também possamos refletir e entender até que ponto essa reflexão atinge
nossa sobrevivência e nossa relação com o mundo que nos cerca.
Laredo Silva e Oliveira – 1º Ano Noturno
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