"O juiz deve
colocar-se no lugar da autoridade faltosa para autorizar uma intervenção nos
assuntos particulares de um cidadão." A frase de Garapon mostra o cerne da
questão do ativismo jurídico e o quanto ele é importante em uma sociedade desiludida
com os poderes políticos que deveriam representá-la.
Apesar de caber ao Poder
Legislativo a função de fazer leis para atender às novas demandas sociais,
pode-se perceber que não é o que ocorre no Brasil. Por questões morais,
religiosas ou mesmo de desinteresse pela população, o Legislativo se omite, nem
mesmo coloca em pauta assuntos que não sejam favoráveis a seus interesses
individuais, abandonam os cidadãos. Por esses motivos, o Judiciário torna-se a
opção mais viável para que o Direito cumpra sua função de acompanhar o contexto
histórico no qual está inserido. É nesse cenário que se insere o ADI 4.277 / DF, tratando do reconhecimento de
direitos na união homoafetiva.
A união entre pessoas do
mesmo sexo é uma realidade inegável e, em grande parte dos países, lícita,
porém, o preconceito persiste, o público LGBT é um dos que mais sofre com a
violência moral, psicológica e física, apenas por ter uma orientação sexual que
não corresponde aos valores defendidos por grupos conservadores e religiosos.
Por esse motivo, a legislação sobre esse assunto não evolui, o que é
preocupante por continuar a segregar esses indivíduos e tratá-los como
inexistentes, culminando no aumento da discriminação e discursos de ódio, não
correspondendo aos princípios democráticos de liberdade e dignidade da pessoa
humana.
Outro ponto relevante é o
de que, por ser um país extremamente conservador, há pouca abertura para que
haja protagonistas políticos que defendam as minorias. A dificuldade de uma
pessoa do público LGBT ser eleita ou levar à discussão no Congresso pautas
importantes para esses indivíduos é imensa, restando somente o Judiciário para
que seus direitos sejam reconhecidos e resguardados, essa seria a expansão do
campo de ação desse Poder de que Maus trata.
Se o ativismo jurídico na
questão LGBT já era expressivo no ano de 2011 -com um governo mais tolerante-
hoje com um Presidente que faz afirmações como: "Quem quiser vir aqui
fazer sexo com uma mulher, fique à vontade. Agora, não pode ficar conhecido
como paraíso do mundo gay aqui dentro” e uma grande bancada evangélica extremamente
homofóbica, passou a ser imprescindível. Mesmo não sendo o ideal o Poder
Judiciário exercer funções legislativas, enquanto não houver alguma reforma
política que leve a população a crer novamente em seus governantes e que estes resguardem
também as minorias, a confusão entre os Poderes não será só uma realidade, mas
uma necessidade.
Caroline Kovalski, 1º ano
Direito, noturno.
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