Todas as atividades dos indivíduos nessa sociedade estão ligadas, mais ou menos diretamente, ao trabalho e à busca pela ascensão econômica (e social, consequentemente). A sociedade do capital gira em torno da busca pelo material, em diferentes instâncias. E quem busca fugir dessa ordem é, sim, marginalizado. Embora todas as sociedades que já existiram tivessem no trabalho um bastião de sua manutenção, o capitalismo tem uma relação mais íntima com o trabalho. Isso pois ele injeta nas pessoas, desde a infância, a esperança da mobilidade social. Essa esperança move os indivíduos ao trabalho de forma que não seja necessária uma coerção, como era em tempos passados. A ordem se mantém pela falsa esperança de ascensão.
Quando Karl Marx e Friedrich Engels se debruçaram a escrever algumas das obras que mais afetariam o Capitalismo em toda a história, a situação desse modelo era muito diferente da de hoje. O contexto do surgimento das indústrias condicionou toda a sociedade da época para que seu funcionamento girasse apenas em torno de tais indústrias. Assim, não havia a ilusão de opções ou de ascensão. É necessário se atentar que questões colocadas pelos autores, como a do fetichismo da mercadoria e a mais valia, são ainda base da manutenção do sistema. Embora conceitos marxianos sejam usados e caibam muito bem até hoje, a análise das relações de trabalho atualmente não tem como se basear unicamente nesses autores.
A expectativa pela ascensão social pode fazer os indivíduos deixarem de lado questões culturais que para algumas gerações anteriores seriam primordiais. No texto "Deriva: como o novo capitalismo ataca o caráter pessoal" de Richard Sennett o personagem Enrico, pai que faz de tudo para educar seus filhos visando uma vida melhor para eles, deixa de lado suas tradições e raízes familiares por esse objetivo principal, mostrado pelo ato de deixar o antigo bairro de origens italianas e partir para um bairro de subúrbio, onde seus filhos teriam "melhores condições". Ao deixar tal bairro, é quase inevitável a desconexão com as raízes familiares. E aí mora um dos exemplos da constatação de que o capitalismo globalizado representa o fim dos individualismos, é a supressão das pequenas culturas pela cultura massificada e generalizada. Na história de Sennett Rico, o filho de Enrico, de fato atinge o sonho do pai, estabelecendo uma vida profissional rentável e uma família como esperada. Porém, se mostra desconectado de suas origens e tem os mesmos problemas que tinha o pai, questões familiares e aflições quanto à fugacidade do mercado e a velocidade das mudanças.
A sobrevivência na sociedade hoje em dia exige dos indivíduos lidar com o interesse de se encaixar no globalismo do capital mas com a exigência de se desligar das origens para buscar a formação pessoal individual. E, muitas vezes, esse desligamento passa despercebido, já que um trabalhador é sempre atentado para necessidades imediatas e palpáveis, como bancar sua família. A sociedade do capital desliga os indivíduos de suas origens e do que ele realmente é em detrimento do sonho da ascensão e da necessidade da sobrevivência.
Gustavo Carneiro Pinto
1º Ano de Direito - Noturno
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