No romance “A Cidade e as Serras”,
publicado no início do século XX, o desenvolvimento tecnológico de Paris
contrasta com a simplicidade rural de Tormes. Analogamente, na
contemporaneidade pós Guerra Fria, essa discrepância é notada entre os “países do
Norte” e “do Sul”, já que os primeiros são cientificamente mais avançados que
os demais. O sonho dos países subdesenvolvidos de possuírem os mesmos conforto
e qualidade de vida que os países “do Norte”, paralelos a Paris no século passado,
é aproveitado por muitos políticos brasileiros em campanhas eleitorais, para
legitimar a beneficiação de grandes empresas, em detrimento do popular, já que,
segundo eles, é necessária a ordem (aliada ao sacrifício das massas) para um
posterior progresso de fato, segundo uma filosofia positivista de Auguste
Comte. É o caso da Reforma da Previdência, defendida pelo presidente interino
Michel Temer, e das diretrizes do “milagre econômico” no governo de Garrastazu
Médici.
Todavia, o progresso, ao contrário
do que se espera, muitas vezes acaba restrito às camadas economicamente mais
favorecidas do país, o que gera debates sobre a veracidade do discurso “ a riqueza
de poucos beneficia a sociedade inteira”.
Logo, o positivismo comtiano muitas
vezes é usado para aumentar o distanciamento do alicerce e da cumeeira da pirâmide
social, de forma pragmática no Brasil. Não por acaso, a aplicação do lema
“Ordem e Progresso” em uma nação subdesenvolvida e latifundiária, que necessita
de reparos e análises aprofundadas, culminou em sua classificação como o décimo
país mais desigual do mundo em 2017.
Giovana Fujiwara (diurno).
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