A partir da filosofia positiva originou-se
a sociologia, é, porém, de se ressaltar que, não obstante a forte defesa da
materialidade e cientificidade do saber, os positivistas pecam por exaltar uma
realidade utópica e puramente científica- naquilo que tange os saberes não
metafísicos. Nesse sentido, é possível afirmar que a apreciação sociológica
proposta tempos depois por Émile Durkheim possui maior plausibilidade para ser
utilizada, dado ser, em tese, eminentemente realista e não ideológica e, ainda que
Comte tenha defendido tratar o objeto social dessa mesma forma, o próprio
Durkheim reconhece que o positivista tratava a sociedade de forma metafísica,
ou seja, a partir de sua noção de vinculação inevitável da história ao
progresso.
Os conceitos durkheimianos
trazem consigo grande aceitabilidade no sentido de que compreendem a sociedade
enquanto tal e a sistematizam conduzindo à noção, não despropositada, da sociabilidade
natural do homem. Fato este demonstrado pelas teses advogadas pelo autor em
questão com suas ideias acerca do fato social e sua coercitividade. Durkheim,
assim, chegou a estabelecer um conhecimento que não era novo e cuja
razoabilidade remontava a séculos, o próprio São Tomás de Aquino reconhecia que
viver solitariamente era apenas virtude de grandes eremitas, ou seja, uma
conjuntura deslocada daquilo que o homem rotineiramente vivia. Além de que, as
próprias necessidades demonstram a imprescindibilidade que os homens têm uns dos
outros. Ideias estas importantes para sua época- um período que se seguia ao tempo dos contratualistas.
Propõe-se a reflexão universal: os homens desvinculam-se do meio para
agir? Novamente são demonstrativas as ideais de Durkheim, questiona-se, por
exemplo, os grupos que se propõe “contra o sistema vigente” são, de fato,
desvinculados? Seriam os defensores da independência americana puramente
individualistas e apartados por inteiro da sociedade e da mentalidade de sua
época? O mesmo diz-se dos autodenominados defensores da contracultura: seriam
de fato tão individuais na época de seu surgimento sem nenhum outro motor
social que os impulsionaria a tomar tais atitudes? Por óbvio, a sistemática
social vincula os homens em suas ações. Conforme o próprio Durkheim discorre,
as mudanças sociais possuem causas eficientes, isto é, condicionamentos
sociais.
Vale lembrar, de forma
ilustrativa, uma realidade que parece ser atemporal. Trata-se do senso comum,
noções construídas e com prevalência no âmbito social. A coercitividade das convicções sociais tende a
reprimir as singularidades do pensamento dos indivíduos, em vista do
fato de a
aceitação social ser importante paradigma para o próprio indivíduo enquanto
ente social que é. Exemplo brasileiro atualíssimo se dá pelo desprestígio que a
classe política vem sofrendo desde 2013 em especial, um suceder de fatos
geraram socialmente um senso comum: corrupção endêmica, recessão econômica,
desemprego. Atualmente chega a ser socialmente condenável defender um político. Entretanto, é de
se ressaltar que as modalidades de coerção social podem variar nos
mais distintos grupos sociais existentes segundo a época e o contexto. Finalmente,
a aplicação dos conceitos de Durkheim possui presença marcante na própria
essência do ser: que é o indivíduo sem a sociedade? Sequer haveria razão para
existir o Direito penal, não há crime sem sociedade; e a reflexão a que se
propõe o sociólogo é marcadamente conexa aos princípios supracitados,
demonstrativo inequívoco da sensatez com que o autor analisa a coletividade.
Gustavo de Oliveira- 1º ano noturno
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