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domingo, 4 de setembro de 2016

A relação entre uma aventura literária e a discussão entre Marx e Weber

A Trilogia de livros "Divergente",  escrita por Veronica Roth, envolve uma trama pós-apocalíptica na futura Chicago, onde, para que a sociedade não se corrompa novamente, os cidadãos são então afiliados a uma das cinco facções existentes: Abnegação, Erudição, Audácia, Franqueza e Amizade, de acordo com suas características e instintos, muitas vezes abrindo mão de estar com a família em prol do funcionamento da cidade. A individualidade, defendida por Weber, é deixada de lado, pois o determinismo nesta suposta sociedade faz com que os órgãos superiores, o que se pode correlacionar com o Estado, sejam mais importantes a ponto de serem tecidos não pelas diferentes individualidades como defende o autor, mas pelos seus princípios em si, sendo nutridos por novos membros ano após ano, sem que estes compartilhem, muitas vezes, de suas ambições e opiniões pessoais para compor os "todos".
O problema da trama são os chamados Divergentes, pessoas que tem tendência a não se encaixarem em apenas uma facção, dados então como problemáticos, pois desafiam a harmonia da cidade. Há também os sem-facção, aqueles que não conseguem se encaixar em nenhuma, portanto são excluídos do meio social, restando os becos afastados para se organizarem e conseguirem sobreviver. Nota-se como a individualidade chega a ser até nociva, privando dos cuidados sociais aqueles que a possuem de forma gritante. Entretanto, no desenrolar da história, descobrimos que aquela parte da cidade não passa de um experimento controlado de fora dela, cujo foco é a análise destes Divergentes, pois acredita-se que eles são a salvação da humanidade, gerando alvoroço enorme, por abalar as estruturas que até então mantinham-se firmes e ditadoras das regras. Neste momento, ponto positivo para Marx, pois a mudança abrupta gera ação política e revolta, e ameaça a até então classe dominante.

Entretanto, Weber com certeza leva a melhor nesta relação: a cidade não era a única realidade existente. As personagens principais constatam que fora da cidade nem tudo são flores, pois o experimento que até então fora a vida desses dava os não-Divergentes, e antigos dominantes do local como, na verdade, seres defeituosos e não passíveis de receberem devida atenção. Ou seja, o sistema não era único, na cidade e fora dela existiam classes no poder e lutando por ele - como vai ocorrer após a grande descoberta - demonstrando que realidades coexistem, e contradizendo Marx, que dava a realidade preconizada por ele como, praticamente, o único tipo a ser discutido.

Arthur Lopes da Silva Rodrigues - Direito Noturno

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