A
Trilogia de livros "Divergente", escrita por Veronica Roth, envolve uma trama
pós-apocalíptica na futura Chicago, onde, para que a sociedade não se corrompa
novamente, os cidadãos são então afiliados a uma das cinco facções existentes:
Abnegação, Erudição, Audácia, Franqueza e Amizade, de acordo com suas
características e instintos, muitas vezes abrindo mão de estar com a família em
prol do funcionamento da cidade. A individualidade, defendida por Weber, é
deixada de lado, pois o determinismo nesta suposta sociedade faz com que os
órgãos superiores, o que se pode correlacionar com o Estado, sejam mais
importantes a ponto de serem tecidos não pelas diferentes individualidades como defende o
autor, mas pelos seus princípios em si, sendo nutridos por novos membros ano
após ano, sem que estes compartilhem, muitas vezes, de suas ambições e opiniões
pessoais para compor os "todos".
O
problema da trama são os chamados Divergentes, pessoas que tem tendência a não
se encaixarem em apenas uma facção, dados então como problemáticos, pois
desafiam a harmonia da cidade. Há também os sem-facção, aqueles que não
conseguem se encaixar em nenhuma, portanto são excluídos do meio social,
restando os becos afastados para se organizarem e conseguirem sobreviver.
Nota-se como a individualidade chega a ser até nociva, privando dos cuidados
sociais aqueles que a possuem de forma gritante. Entretanto, no desenrolar da
história, descobrimos que aquela parte da cidade não passa de um experimento
controlado de fora dela, cujo foco é a análise destes Divergentes, pois
acredita-se que eles são a salvação da humanidade, gerando alvoroço enorme, por
abalar as estruturas que até então mantinham-se firmes e ditadoras das regras. Neste momento, ponto positivo
para Marx, pois a mudança abrupta gera ação política e revolta, e ameaça a até
então classe dominante.
Entretanto,
Weber com certeza leva a melhor nesta relação: a cidade não era a única
realidade existente. As personagens principais constatam que fora da cidade nem tudo são flores, pois o experimento que até então fora a vida desses dava
os não-Divergentes, e antigos dominantes do local como, na verdade, seres defeituosos
e não passíveis de receberem devida atenção. Ou seja, o sistema não era único,
na cidade e fora dela existiam classes no poder e lutando por ele - como vai ocorrer
após a grande descoberta - demonstrando que realidades coexistem, e
contradizendo Marx, que dava a realidade preconizada por ele como,
praticamente, o único tipo a ser discutido.
Arthur Lopes da Silva Rodrigues - Direito Noturno
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