Num contexto pós-revolucionário, Auguste Comte criou
o positivismo, se opondo ao iluminismo e sintetizado por “Amor por princípio, ordem
por base e progresso por fim”. O francês formulou a lei de três estágios, que
consistia na passagem do pensamento humano do estágio teológico – recorrer aos
deuses para explicação dos fenômenos naturais – para o metafísico – fundamenta o
conhecimento nas abstrações. Por fim, chegaria ao estágio positivista,
alcançando a plenitude intelectual por meio da experiência ao se preocupar em encontrar
as leis que regem os fenômenos.
Nesse sentido, a crise estabelecida em sua época referia-se
a anarquia intelectual, sendo necessária uma reforma social para sair de uma ordem
histórica teológico-militar a fim de se adaptar a ordem social científico-industrial
nascente. No entanto, apesar da evolução em termos cientificistas, houve como
consequência uma crise social tremenda, vide a desigualdade social em âmbito
mundial, sendo o autor francês complacente e despreocupado com a situação
descrita. Ao incentivar o ensino à obediência e à hierarquia desde o início da
vida, Comte buscava encontrar a ordem desde o princípio. Tal concepção de
fixidez resultou na pouca flexibilidade das classes sociais, uma vez que o
formato de meritocracia era valorizado, isto é, cada indivíduo era responsável
por uma contribuição social e era devidamente retribuído.
No Brasil, o positivismo está representado no seu
símbolo-mor: a bandeira nacional. Criada com a proclamação da República, os
dizeres “ordem e progresso” retratam bem o objetivo que traçavam para o país.
Manter a ordem – conter as revoluções, silenciar os opositores e ignorar os
trabalhadores - a fim de chegar ao progresso de poucos. O uso dos ideais comtianos
foi deturpado pelos então detentores do poder, que viam no positivismo uma
forma de justificar seus desmandos e a sua falta de comprometimento com o povo.
Segundo Antônio Paim (1974, p.22): "a evolução da elite política brasileira no sentido de uma tendência abertamente fascista, com o Estado Novo, não poderia ter ocorrido sem trabalho prévio, ao longo de várias décadas, seja do castilhismo, no meio político, seja do positivismo, no meio militar.” Por fim, as eleições de outubro do ano passado trouxeram a tona o pesadelo positivista, visto que o congresso nacional é o considerado um dos mais conservadores dos últimos
tempos.
Hodiernamente, o
legado deixado pelo positivismo na educação reflete na valorização das ciências
naturais, na formação de fileiras no ambiente escolar a fim de manter a ordem e
o incentivo ao desempenho e resultados em detrimento dos debates e reflexões
acerca das causas geradoras dos problemas. Ademais, conclui-se que muitas ideias
organizadas por Comte foram usadas de maneira superficial, não refletindo o que
o autor realmente pensava. Outras tantas contribuíram veemente para o resultado
de crises sociais vistas, sobretudo, no Brasil. Por fim, incentivar o altruísmo
e a promoção da solidariedade foram contribuições importantes, contudo foram
ideias pouco colocadas em prática na posterioridade, uma vez que os indivíduos
se tornaram cada vez mais individualistas e egoístas.
Em síntese, o autor do “Curso de Filosofia Positivista”
certamente foi mal interpretado, sendo suas ideias jogadas sem o devido
contexto e colocadas de maneira oportuna, ocasionando uma desvalorização de sua
filosofia, mal vista por muitos estudiosos.
Leonardo Borges Ferreira - 1° Ano direito noturno
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